Em "MORTE VERMELHA" não havia "ante-estreia"
no cartaz para ninguém. O folheto só servia pontos de interrogação,
quem ansiasse respostas que comprasse bilhete: "Quem será o
pavoroso 'Escaravelho' que enche de terror a humanidade inteira? Quem será
o misterioso 'Mascarado' que espalha o bem, lutando contra os maus?"
Em "A VIÚVA ALEGRE" o redactor da pub ao filme já dava como adquirido que os telespectadores conheciam a estória. Ou apenas a gentileza dos políticos gentis que, nos debates televisivos, teimam em muletar o início das falas com um "Como sabe..."? Vamos lá nós saber: "Como toda a gente sabe esta é a eterna história da Viúva Alegre que possuia 80 milhões de dólares e que era muito linda, acima de tudo... e do Conde Danilo que cortejou a bela viúva para lhe apanhar o dinheiro!" Já se sabia o truque, velho como o mundo... "O HOMEM QUE SABIA DEMAIS" foi parco no desvendar prévio do novelo aos cinéfilos: "Uma história que começa com o luzir de uma faca assassina nos becos do exótico Marrocos e consegue o máximo 'suspense' com um bater de pratos da Orquestra do Albert Hall de Londres" -- assim se apresentava o filme de Hitchcock. Na linha seguinte, acto de contrição por informação tão codificada: "Neste filme magistral, onde o 'suspense' atinge o seu ponto mais alto, vivemos o drama duma mãe em busca do filho raptado, numa espantosa interpretação de Doris Day". "A CASA DA PRAIA" (1957), apresentava-se como "um filme palpitante, movimentado, cujo entrecho não pode ser revelado". Revelavam-se, mesmo assim, alguns pormenores: " A história de um amor violento, cheio de horas de angústia -- A extraordinária aventura de uma mulher rica, bonita e solitária -- Um rapaz encantador, cujo passado era sombrio, misterioso, cheio de aventuras -- Ela sabia o que fizera a outras e o que acabaria por lhe fazer -- Ela sabia o que ele era e temia-o, mas, apesar de tudo, só pedia o seu amor -- Este é o amor que todas as mulheres desejam, mas que nem todas se atrevem a enfrentar". Para filme com entrecho embargado, não estava mal... Vários cartazes optavam por assinalar os "clous", os momentos altos e inolvidáveis do filme, os "lances de vigorosa atracção", em vez de detalharem o fio condutor da estória. Uma forma diferente de abrir a apetência ao filme, também um verdadeiro guia condicionador à partida da atenção do espectador, sedento de confirmar, "ao vivo", a informação veiculada no panfleto [para saber mais]. Atente-se nos "clous" do filme "BOCAGE", que passou na Lousã em Setembro de 1939: "Os grandes momentos decorativos e teatrais do filme, são: -- A recepção duma embaixada em Queluz -- -- Um minuete de gala na sala do Trono -- -- A marcha dos marinheiros -- -- O bailarico saloio -- -- Um mercado lisboeta do século XVIII -- -- A 'fragata de Gôa' e a festa da Marquêsa de Alorna -- -- Milhares de figurantes -- -- Guarda-roupa luxuoso -- -- 15 números de música -- -- 4 bailados 4 -- "AVENTURAS DE MARCO POLO" destacava os "momentos mais notáveis": "A recepção do rei a Marco Polo -- O suplicio da sala dos abutres -- Os três pedidos de Marco Polo -- O assalto a Pequim". "ORGIA DOIRADA" libertava "alguns clous sensacionais de bom gôsto e riqueza de encenação". Eram eles -- "A dansa dos dollares", "Lição de amor num jardim", "Os violinos luminosos" e "A grande parada dos esquecidos". "TERRA BENDITA", na Lousã em 1941, vendia-se como uma "obra grandiosa cheia de clous emocionantes que jamais se apagarão da memória do público". O destaque aos "clous" parecia querer significar que, mais do que a obra na sua totalidade, o filme valia se tivesse picos de grande intensidade. "MARIA PAPOILA" preferia libertar pormenores, em vez de "clous": "ALGUNS PORMENORES DO FILME: -- As proezas do 'americano borracho -- O 27 está a dormir na forma -- O fado do Zé Ninguém -- O roubo das jóias -- O 29 é preso por um ladrão -- O julgamento -- Maria Papoila culpa-se para salvar o 29 -- Quem é o criminoso?". Sobretudo interessava não cansar o espectador, não o aborrecer, fadiga na cadeira do nimas era sinal de aborrecimento. Os "clous" eram arma eficaz contra a monotonia: "Um argumento novo, curiosíssimo, sem um momento de fadiga para o espectador", garantia-se aos que comprassem bilhete para penetrarem na "FLORESTA PETRIFICADA". |