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Um filme grande como grande é o Oceano!

"SANSÃO E DALILA", a "grandiosa, monumental e inolvidável produção de Cecil B. DeMille!" era "Apocalíptico! Esmagador! Gigantesco!" "NAPOLEÃO" custara "cerca de 40 mil contos, nele aparecendo 1.500 soldados de Infantaria, 1.000 de cavalaria, 203.000 figurantes, 250 actores secundários e 100 estrêlas já consagradas -- Fundidores especializados fabricaram OITENTA canhões que troaram naquelas batalhas". O filme de Sacha Guitry, que os espectadores lousanenses apreciaram em 1956, tinha mais números para desvendar: "Uma das mais importantes cenas de NAPOLEÃO é a da coroação, que dura apenas um minuto de projecção e exigiu a presença de 300 figurantes e custou milhões de francos. Só o manto imperial, de arminho autêntico, custou seis milhões". (*)

"OS REVOLTADOS DO CAINE" era "um filme grande como grande é o Oceano!" "SOB DUAS BANDEIRAS" tinha poucos heróis resistentes, como convinha, mas muitos inimigos a abater: "20 homens lutando contra 5.000 árabes em batalhas de arripiante realismo!". Sobravam 4.980 para outras tarefas: "A super-produção da FOX, considerada o maior êxito da época 1936/1937, o filme das 4 estrelas, 42 artistas, 10.000 figurantes". (**)

"OS MISERÁVEIS", na versão passada na Lousã em 1960, vinha com quatro horas de projecção, milhares de figurantes e todos os ingredientes necessários às produções fora de série: "OS MISERÁVEIS é, pois, uma produção 'hors-serie', que marca uma pedra branca na história mundial da sétima Arte". "ADVERSIDADE" constituía "um dos mais surpreendentes esforços da indústria cinematográfica".

Grandes os filmes, grandes os actores, os cantores: Lola Flores, protagonista de "PENA PENITA PENA", era a "artista mais cara de Espanha", preço justo a atentar nos encómios: "prodigiosa", "genial" e "única". Fernandel era, em 1955, "o actor mais amado do mundo"; Maria Schell "a amorosa nº 1 do cinema alemão", com uma particularidade muito especial, um pormenor todo ele dirigido aos brios do espectador lusitano: "Maria Schell uma artista de esmagadora sinceridade, que o público português consagrou antes do grande público internacional". As plateias portuguesas a merecerem camisola amarela na adesão aos pergaminhos de artistas estrangeiros desconhecidos.

"O grande tenor português TOMAZ ALCAIDE" entrava em "BOCAGE", a programação do Cine-Teatro Lousanense preservava o écrãn aurífero, a 30 de Maio com "O OIRO", a 1 de Junho com um tenor "voz de oiro". (***) Bocage só podia ser "o melhor filme português de todos os tempos". Melhor e grande? O cartaz responde, pronto: "Constitue um espectáculo grandioso".

Grandioso o incêndio oferecido por "A MULHER DA JAMAICA"? -- Melhor que grandioso, gigante: "A visão gigantesca e impressionante dum pavoroso incêndio". Que fossem em bom número, também, os figurantes. "AMOR DE PERDIÇÃO" tinha no elenco Asis Pacheco, António Silva, António Vilar, Eunice Colbert, Carmen Dolores, Barreto Poeira, Igrejas Caeiro, e muitos outros, "num conjunto de 250 figuras", quarteirão decuplicado com direito a "bold" no cartaz.

"O FURACÃO" congregara vinte vezes mais "figuras" e, a acreditar na publicidade, alguns não ficaram para a estreia da película: "5.000 figurantes muitos dos quais foram vítimas do impressionante cataclismo que os técnicos de Hollyood quasi miracolosamente reconstituiram".

"AVENTURAS DE MARCO POLO" não quantificara os adereços humanos, assinalava apenas "grandes massas de figurantes". O registo da imensidão de figurantes denunciava os objectivos publicitários no cartaz deste mesmo filme. É que a frase seguinte sentenciava: "o espectáculo das multidões". "S. FRANCISCO", para além de "milhares e milhares de figurantes em cêna", também tinha "marcações com o maior grupo de 'girls' de Hollywood". E milhares de animais não podiam faltar. "TARZAN E A COMPANHEIRA" apostara em "emocionantes combates" de "milhares de elefantes com milhares de liões". [para saber mais]

"NO REINO DAS FADAS" (1959) entrava na galeria dos gigantes, não por ter milhares de animais, mas por ser interpretado exclusivamente por bichinhos: "Exclusivamente interpretado por animais e falado em Português! -- 3 anos de preparação! 2 anos de filmagens! E uma fortuna fabulosa!"


(*) O cartaz de "NAPOLEÃO" remata com um comentário divertido: "NAPOLEÃO BONAPARTE quando era ainda aluno da escola militar de Brienne, escreveu no seu último caderno diário: 'Santa helena, uma pequena e árida ilha' É O homem que destruiu Impérios e nações, foi morrer precisamente nesta ilha pequena e árida. Coisas do destino!"

(**) A estrutura narrativa do filme também se quantificava, como aconteceu com "SEGREDOS DE ALCOVA": "3 histórias não proibidas cada uma das quais é contada separadamente, num tipo de galantaria e de suave ironia -- Com 3 Directores -- Com 6 Artistas -- Com 3 'Sketches".

(***) O ouro abundava nas vozes de então: "A MELODIA PROIBIDA" contava com José Mojica, "o célebre e popular cantor da voz de oiro"; Martha Eggerth era "a voz de oiro de renome mundial" em "DIPLOMATA PARA SENHORAS". O jornal "ALMA NOVA" retomava, em notícia breve, os pergaminhos auríferos da voz de Eggerth: "A Filarmónica Lousanense, uma das colectividades mais simpáticas da Lousã, leva a efeito na sua sede e em benefício dos seus cofres, uma sessão de 'Cinema Sonoro', em que será exibido o formidável film 'Diplomata para Senhoras' com a consagrada estrela, Martha Eggerth, a voz de oiro de renome mundial".