CINEMA GUINESS
"No colossal QUO VADIS foram utilizados: 52.400 jardas de tecido; 15.000 pares de sandálias; 4.000 armaduras; 12.000 artigos de joalharia; 500 objectos de escultura; 150 cenários diferentes; 63 leões; 450 cavalos, entre os quais 50 brancos; 85 pombas brancas; 7 toiros de Portugal; 5 juntas de bois; 2 leopardos, etc, etc. Há no filme um total de 150.000 acessórios variados e mais de 10.000 desenhos foram necessários para a construção dos cenários".
O cinema tinha o condão de engrandecer qualquer tema. O cartaz
de "CASTA SUZANA" era elucidativo quanto a este ponto:
A Opereta de maior sucesso em todo o mundo, enriquecida pela grandiosidade
que só o cinema lhe pode dar". "QUO
VADIZ" pela Lousã em 1954, era o filme que custara
milhões "para empolgar multidões". Exibiam-se os
números com que abrimos este capítulo, mais 29 artistas principais,
110 artistas secundários e 30.000 figurantes, tudo trabalhando a
favor de uma "sumptuosa magnificência". Em "QUO VADIZ"
descobríamos que os colossos também tinham gradação
de genuinidade: "o espectáculo mais genuinamente colossal de
todos os tempos!"
"O SINAL DA CRUZ", com "as estrelas máximas do cinema americano" anunciava-se "uma fita como nunca mais se verá!..."; se a "maximização" estrelar não fosse suficiente, havia que atentar nos figurantes. Contratados para fazer número, era bom que o número fosse gordo: "Milhares de figurantes". A moldura não podia destoar na senda da hiperbolização: "Cenários grandiosos". Tudo somado, "um conjunto que custou milhões". "O SINAL DA CRUZ" passou na Lousã a 7 de Abril de 1937. A 8 de Maio do mesmo ano, um mês e dia passados, as retinas que haviam bebido "uma fita como nunca mais se verá" viram "um dos melhores, mais completos filmes de todos os tempos": "FRA-DIAVOLO", com "Bucha e Estica", "os maiores cómicos do mundo". A fechar Maio, chegava "O OIRO". Muitas e grandes pepitas por segundo? Sem dúvida, tantas que se dispensava o polimento: "O filme que pela sua grandeza dispensa adjectivos". Em 1956 algum redactor publicitário escalado à secção dos cartazes de cinema vira filme no Egipto, e ficara deslumbrado. "Grande" já não vendia, pelas bandas do Suez havia umas coisas gigantes em pedra? Muito grandes, grandes mesmo? Pois então, chamemos a "O.K. NERO" um "Espectáculo Piramidál!" "GUERRA E PAZ", chegado à Lousã em Outubro de 1958, em vez de piramidal era colossal, e um "colossal" bem aplicado: "Nunca o COLOSSAL foi tão perfeitamente aplicado como nesta inolvidável adaptação do mais belo romance do mundo!". "Colossal" por várias razões: "COLOSSAL pela beleza inigualável do seu romance, a mais bela obra literária do mundo! COLOSSAL pelo movimento impressionante de formidáveis massas militares na evocação das batalhas de Austerlitz, Borodino e Berezina!" Colossal também na metragem, mas aí a publicidade passava de raspão ou, melhor dito, servia-se do colosso como sinónimo de fugacidade: "É tão grandiosa, imponente e completa, que mais de três horas de projecção parecem um instante!" |