Como na Suisa

Capítulo III            Página 3

-- Ora onde é que eu ia? Ah, aqui. Bom!...

'Optimo, digo eu. Tem muitíssimas vantagens: É um exercito que se compõe de tantos homens, quantos são os que estão em edade para isso; faz uma pequena despeza; os soldados não fazem falta para agricultar a terra, porque pouco tempo estão auzentes da sua casa. Porque, meus amigos, imaginem vocemecês, quanta riqueza não haveria por anno se todos os braços que estão em todos os regimentos de Portugal se empregassem a trabalhar na agricultura, no commercio e na industria! Sommem agora a isso o que se gasta com elles, e digam-me se isso já não dava um grande empurrão às finanças do nosso paiz...'

-- Aí não concordo com o homem, prós dias d'hoje, é claro. C'o desemprego que vai para aí, a tropa ainda arranja a vida a muita gente...

-- Se me deixasses acabar esta parte, Vanderlei, falta pouco...

-- Faz favor e desculpe...

-- 'Porque devemos notar: o exercito tem um enorme numero de individuos que consomem e nada produzem de util para a riqueza publica, ao passo que se fosse como na Suissa, teriamos como já disse um exercito muitissimo maior, pouca despeza com elle se faria, e havia muitos mais braços para o trabalho' (notas 11 e 12). O que é que dizem disto?

-- Que não percebo como é que um exército tão grande como esse, e os suiços cortaram-se a entrar na guerra mundial!

-- Chama-lhes burros, Pimpão. Ficaram de fora para guardar o ouro que os nazis roubaram aos judeus...

-- E também se não fossem eles não sabíamos a que horas começava a guerra!

-- Não brinques com coisas sérias, Duartinho: Os suiços não entraram na guerra não por serem cobardes, mas porque servia a todos haver um país neutral.

-- Tal e qual como o meu Mister Coc, nunca cá comi um tão neutral, não sabe a nada, hoje...

-- Deve ser um Mister Coc suiço, Zé Cristão. Os américas a inventarem um Mister Coc suiço para o paladar português, está-se mesmo a ver. Amanda-lhe com gás mostarda, que ele perde logo a neutralidade.

-- Este diálogo acaba a falar da instrução, é um naco de prosa giro. Como sempre, servindo para dar mais umas alfinetadas na monarquia. Quereis que vos leia esta parte?

-- Para mim já não dá, que está na hora da minha aula de código. Mas leia para eles, e depois amanhã contam-me.

-- 'Quem não lê, quem não estuda, quem nunca sai da sua vida, disse o João da Peneda, pode-se dizer que é como os porcos, que só vêem um palmo adiante do nariz.

-- Pois meus caros, trate cada um de se instruir tanto quanto possa, lendo, aquelles, que o souberem, conversando uns com os outros, e para o que eu lhes prestar estou sempre às vossas ordens...'. (nota 13)

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