Como na Suisa |
Capítulo III Página 4
-- Agora com esta idade é que eu me vou instruir? -- Ó meu burro, o professor não está a falar para nós, está a ler o que vem no jornal, que raio, deixa o homem acabar... -- Eu repito: '...Pois meus caros, trate cada um de se instruir tanto quanto possa, lendo, aquelles, que o souberem, conversando uns com os outros, e para o que eu lhes prestar estou sempre às vossas ordens. -- Pois muito obrigado, bem sabemos isso, que o sr. está sempre prompto a aturar-nos. -- O que se precisa é de muita instrucção no nosso paiz, mas isso é que os governantes não querem, porque lhes não convem. Se todo o Povo soubesse ler estaria com os olhos mais abertos e não se callaria tão facilmente a todas as maroteiras. Nós, apezar de pagarmos um dinheirão, não temos as escolas necessarias; aos pobres não são fornecidos livros para os seus filhos estudarem, outros ficam tão longe da escola que não podem lá ir, etc. etc. etc. E tudo isto para quê? Para que o povo seja ignorante, para que desconheça os seus direitos, para que não tenham conhecimento das explorações que lhe fazem. Quando se pedem escolas, quando se pedem estradas, caminhos de ferro, pontes, outras commodidades necessarias e indispensaveis aos povos, respondem que não ha dinheiro. -- Mas ha-o para fazer adeantamentos à familia real, para festas e viajatas, para luxos e banquetes, para favores a afilhados, e para tudo o mais que elles quizerem, disse o sr. João da Rosa. -- Pois é, continuou o sr. Antonio; elles repartem o nosso dinheiro como se seu fosse, e até sem nos darem contas nem satisfações. -- Que pouca-vergonha'. -- Também digo, ó professor. Aquilo é que era uma pouca vergonha. Mas depois o rei foi-se embora e continuou tudo na mesma. Sabe lá Deus como é que os meus queridos pais me conseguiram pôr a estudar, e eu não sou de 1910, sou de muito depois. -- Tu andaste a estudar, Veríssimo? Não tens só a quarta classe como eu? -- Pois tenho, Pimpão, e então isso não é estudar? -- Humm, cá para mim pôr a estudar é quando os pais mandam os filhos para a universidade ou para o seminário. Hi que granda gaita, já viram as horas? A minha patroa mata-me quando chegar a casa. Até amanhã, meus senhores. O professor vem amanhã? -- Se Deus quiser, cá estarei. -- Traga mais umas coisas dessas, prá gente se ir advertindo. -- Há mais uns diálogos que gostava de vos ler. Amanhã falamos. Boa noite a todos.
Fim do Capítulo III |