Notas

9 a 12

Nota 9. Os apelos ao derrube do 'pardieiro monárquico', para em seu lugar se erguer a 'casa nova' republicana, surgiam em vários diálogos. Respigámos um excerto do 'serão' publicado no nº 36 do 'Commercio da Lousã', de 7 de Fevereiro de 1910, página 1:

'(...) Isto meus amigos, está mesmo a pedir uma reforma por completo e nós podemos dizer que estamos no começo do fim. A monarquia comparo-a com uma casa que tem os vigamentos podres. Quando se lhe deita um remendo dum lado apparecem logo dois ou tres buracos doutro; vai se a tapar aquelles, apparece meia duzia delles. Os partidos da corôa andam mesmo a esfrangalhar-se por completo. O partido regenerador, que era um dos mais fortes, está hoje dividido em seis grupos. O partido progressista em dois. E qualquer dia, em morrendo o seu chefe, o José Luciano, ainda ha de ser pior, porque são muitos a quererem o pennacho. De maneira que isto, está mesmo a ver-se; qualquer dia menos dia vai tudo pelo pó do gato. Os tais vigamentos de que fallei estão pôdres de todo: teem só uma casquinha por fóra, por dentro é tudo carunjo. Qualquer dia sopra algum ventito mais forte, a casa abana, vem abaixo a viga mestra, as madeiras desfazem-se em carunjo, e as paredes ficam reduzidas a montão de pedras desfeitas e barro. Depois nada mais temos a fazer que construir uma casa nova, grande, bem arejada, cheia de luz, alegre por fora e por dentro em que possamos viver á vontade, em liberdade e felizes, em substituição do antigo pardieiro, de frente negra e carrancuda, de poucas janellas e essas gradeadas de ferro, onde a gente mal respira, onde anda sempre a tremer, não nos fiquem aqui prezas as pernas num alçapão, não nos caia alem um pouco de telhado. Para edificar a nova casa, é dever de todos nós, que amemos a nossa patria, que queiramos o bem estar da nossa familia e dos nossos visinhos trabalhar-mos tanto quanto podermos. Outro dia vos explicarei como nós podemos ir trabalhando para conseguir esse fim'.

Nota 10. 'Commercio da Louzã' nº 45, de 30 de Abril de 1910, pág 2.

Nota 11. 'Commercio da Louzã' nº 35, de 27 de Janeiro de 1910, pág. 1.

Nota 12. Mais de um ano passado, em Março de 1911, Paulino voltava ao tema da tropa, mas agora para louvar as medidas implementadas pelos republicanos: '(...) Parece-me que começando pela lei, ha dias publicada, sobre o serviço militar, será melhor. Por essa lei o serviço militar torna-se obrigatorio. Isto quer dizer que todo o portuguez, desde que seja são e escorreito, é obrigado a saber pegar em armas, não havendo de ora em deante remissões a dinheiro. Seja rico seja pobre tem de ir ser soldado.

-- Pois isso é que é bem entendido, pois então, exclamou o Chico da Glória.

-- Como vocemecês sabem, os rapazes que tinham que ir para a tropa, e estes eram aquelles que não tinham bons padrinhos para os livrar por meio da empenhoca, ou que não tinham dinheiro para se remirem, esses rapazes tinham de andar nas fileiras do exercito uns dois ou trez annos. Eram dois ou trez annos em que esses rapazes, quando estavam na maior força da vida passavam essa maior força da vida nos quarteis, sem ganhar e fazendo muita falta á agricultura e ao commercio os seus braços, acarretando inda por cima uma grande despeza para a nação, e tendo nós apesar disso, um pequeno exercito. Agora todos esses males estão remediados: nós vamos ter um grande exercito, com menos despeza, e sem tirarmos esses braços á agricultura.

-- Hom'essa! exclamou o João Russo.

-- É o que lhes digo, e como vão ver. Temos maior exercito porque todos os cidadãos portuguezes, os sãos, está claro, são militares desde os vinte annos até aos quarenta e cinco, em tempo de paz, e dos dezasete em diante desde que haja guerra. Não há falta de braços, porque os mancebos vão aprender o exercicio, e que é apenas de quatro mezes ou meio anno, conforme a arma, e depois de elle voltam para suas casas, para o amanho da vida, repetindo, em cada anno, durante duas semanas os exercicios, para não deixarem esquecer o que aprenderam. Ñ Mas isso é que é uma grande ideia, disseram alguns dos presentes.

-- Pois está claro que é. Por estas razões já os meus amigos veem que se faz muito menos despeza tendo, no entanto, um exercito muito maior.

-- De maneira que então agora, perguntou o Domingos Moleiro, a rapaziada em indo aprender o exercicio volta para casa?

--Está claro. Mas há mais ainda: os que forem aleijados ou fracos, ou que não tenham a altura, ficam obrigados a pagar um tanto conforme os seus bens. Se um sujeito vive só do que ganha, e não fôr para militar por qualquer defeito, paga mil e duzentos reis cada anno, se tiver bens paga alem desses mil e duzentos mais um tanto, conforme fôr a sua fortuna.

-- Muito bem entendido, sim, senhores, respondeu do seu canto o João do Oiteiro.

-- Muito bem entendido e muito justo, continuou o sr. Antonio. Cada um paga conforme as suas posses, e os que nada tiverem, nada pagam , está claro.

-- Mas d'antes, disse o João da Rosa, os que mais tinham [no texto lê-se 'menos', o que interpretamos como gralha, doutra forma o reparo não faria sentido], em geral, eram os que menos pagavam em tudo.

-- Mas tudo isso vai acabando, proseguiu o sr. Antonio. Até as contribuições vám ser pagas proporcionalmente; isto é: eu se tenho duzentos mil reis pago 5, por exemplo, o que tem quatrocentos não paga 10, mas sim 12, e assim por deante, porque quanto mais rendimento tem o individuo mais pode pagar, porque menos falta lhe faz (...)'. In 'Commercio da Louzã' nº 74, de 24 de Março de 1911, páginas 2 e 3.

Notas 13 a 37