Ampliação

Com 'Tarzan do 5º Esq.' o cinema português actualiza-se, integrando-se na moderna escola 'Realismo Cor de Rosa'

Em 1955, a publicidade aos filmes andava um tanto desorientada no que tocava às excelências do "realismo". É que a 20 de Outubro o cinema italiano era elogiado por se ter rendido à "grandeza", esconjurando assim o pecado da atenção desmesurada aos "temas vulgares": " TEODORA -- O filme que nos comfirma a reviravolta do cinema italiano, que pôs de parte os temas vulgares para nos dar espectáculos de grandeza, luxo e dignidade, extraídos das mais belas histórias de amor de todos os tempos". E nisto de verdade, havia ainda o sub-género -- grande género da "verdade histórica": "Para respeitar a verdade histórica nada se poupou na reconstituição e adaptação de ambientes cuidadosamente seleccionados para permitir reviver a vida faustosa daquela época de luxo" --informava o cartaz de "A DIVINA CONDESSA", ancorado na mesma linha pela reprodução da crítica de "A VOZ": "O filme ontem estreado no EDEN pode reivindicar o mérito da fidelidade histórica em cenários e exteriores. Respeitou-se com escrupoloso cuidado a chamada verdade histórica".

"A CONQUISTA DA ÍNDIA" era outro "film de uma realização estupenda em que a verdade histórica não é atraiçoada". Para não apunhalar a "verdade histórica", "23 especialistas deram-se ao trabalho de investigar, nos seus mínimos pormenores, quanto diz respeito ao homem que fez passear os seus exércitos pela Europa", leia-se Napoleão, para o filme com o mesmo nome. Para respeitar a "verdade histórica", "IVANHOE", essa "história de amor e aventuras passada na heróica época do cavalheirismo" havia sido filmado "inteiramente em Inglaterra, nos locais autênticos onde se desenrolou a história!" (*)

"AMOR DE RAINHA" alimentava-se dos "segredos íntimos da filha de Henrique VIII, que mais tarde seria a Rainha Elisabeth I, de Inglaterra!". O filme desfolhava "um capítulo da história da Inglaterra, apresentado com toda a beleza e realismo!", honrando o cinema americano pela sua "realidade histórica". Mas como nisto de artes publicitárias manda a maleabilidade, "OS 3 MOSQUETEIROS" na sua versão colorida valia, não pela fidelidade ao romance de Dumas, mas por não ter abusado das alterações, segundo rezava a crítica do "Diário Popular": "Diga-se, antes de mais nada, que este filme é excelente, por tudo. Pelo aproveitamento dos melhores episódios da história sem os adulterar muito..."

No meio de tanto realismo, o portuguesíssimo "TARZAN DO 5º ESQ." criara facção no movimento: "Com 'Tarzan do 5º Esq.' o cinema português actualiza-se, integrando-se na moderna escola 'Realismo Cor de Rosa'". (1958)


(*) "SE VERSALHES FALASSE..." também se vangloriava de ter sido "inteiramente filmado no próprio Palácio de Versalhes, nos deslumbrantes salões de Mansard e nos jardins criados por Le Nôtre". O resumo do argumento enfatizava a "autenticidade" do cenário: "E é rigorosamente neste cenário autêntico que SACHA GUITRY fez reviver para nós os acontecimentos igualmente autênticos que marcaram, directa ou indirectamente, os destinos da França durante os últimos três séculos".


FIM DO CAPÍTULO