Uma vez aconteceu... e o cinema foi buscar à vida o tema deste filme singular e emocionante!
"O VENENO" tinha explicação curiosa.
Charles Boyer era apresentado como "o grande trágico da tela
que precisa de falar nas grandes cenas dramáticas, dado o vigôr
da sua máscara e do seu jôgo fisionómico". Ora,
Boyer era "secundado pela grande actriz Michelle Morgan". Esta
não se deixava ofuscar pela aura de Boyer graças ao realismo
das suas cenas de amor: "MICHELLE MORGAN que, a-pezar-do prestígio
do seu partenaire, atrái e domina a atenção do público
pelo realismo das suas cenas de amôr".
"UM ANJO NEGRO" "um filme diferente arrancado á vida real"; "SANGUE TOUREIRO" trazia "um clou sensacional: Uma colhida autêntica do 'matador' DIAMANTINO VISEU"; "FALSO CULPADO", de Hitchcock, tratava de "um caso real que o cinema recorda com todo o seu alto poder de sugestão": "Uma vez aconteceu... e o cinema foi buscar à vida o tema deste filme singular e emocionante!" A colagem à realidade não obrigava, como já perceberam, à extracção da estória de uma estória efectiva ou pretensamente passada na vida real. Bastava que o argumento desfiasse estórias possíveis de se verificarem, bastava que o filme andasse cá muito pelas desgraças terrenas para valer enfatização a esse nível: "Uma história que, embora arrebatadora, se pode verificar todos os dias, em todas as latitudes, com seres humanos de todas as raças e de todas as cores, de todas as religiões e de todas as facções políticas hoje, amanhã e sempre" -- era o cartão de apresentação de "ATÉ À ETERNIDADE". A colagem à realidade confundia-se, em "O CURANDEIRO", com a actualidade de um problema que agitaria a França de 1956: "Um assunto vivamente discutido sobre a existência dos curandeiros cujo número em França avulta sobre o dos médicos -- As multidões, os que sofrem, preferem muitas vezes o poder sobrenatural dos curandeiros ás virtudes da medicina. Que motivos explicam o estranho facto? Porque em tantos casos o curandeiro e não o médico?", interpelava o panfleto de um filme visto pelos olhos d'"O Século" como uma "pintura cruel e exacta dos costumes". "AS PISTAS CHEGAM A BERLIM" valia também por mostrar "as ruínas do famoso REICHSTAG sob cujos escombros desapareceu HITLER". O "realismo" a fazer puxar os galões da Europa contra uma América viciada em aventura: "O GRANDE ESPECTÁCULO [1955] é um filme de excepção, não só sob o ponto de vista técnico como pelo seu carácter espectacular. A história, explorando um tema vigoroso de baixa paixão, o seu desenvolvimento, dado em pinceladas fortes de pujança dramática, o recorte humano das suas figuras principais e o próprio ambiente em que se debatem, fazem de O GRANDE ESPECTÁCULO um filme diferente que envereda por um caminho novo: O do realismo cinematográfico explorado pelo cinema europeu e a que, até agora, o cinema americano se tem negado". A 25 de Agosto de 1955 os americanos padeciam desta maleita, a 15 de Setembro já se haviam redimido: "MARABUNTA -- Além do exótico em que se desenvolvem as cenas, o filme apresenta-nos também um realismo extraordinário, como há muito não saía dos estúdios americanos". |