Ampliação

Se hoje em dia um filme menor de Coppola pede em cartaz referências a "Apocalypse Now", se Sharon Stone foi durante muito tempo "vendida" noutros filmes como a actriz de "Instinto Fatal", desculpem os publicitários de hoje, que o truque já tem barbas. "O ULTIMO MILIONARIO" divulgava realização de René Clair, "o extraordinário realizador de SOB OS TELHADOS DE PARIS"; "AS CRUZADAS" assinalavam realização de Cecil B. de Mille "o grande animador do SINAL DA CRUZ"; Cecil B. de Mille, "um nome que, só por si, basta para garantir um bom espectáculo" -- afirmava o cartaz de "ALIANÇA DE AÇO", só por si, por ter realizado "os grandes filmes OS SETE CAVALEIROS DA VITÓRIA, REI DOS REIS, etc"; "CAVALGADA DO RITMO" era uma "formidável e estupenda realização de William Dieterle, o inesquecível autor de NOSSA SENHORA DE PARIS"; Victor Francen, papel principal em "O CAMINHEIRO" era referenciado como "o actor que obteve um enorme sucesso quando representou em Lisboa no Teatro S. LUÍS". Preston Stwactes não seria muito conhecido do público, o cartaz de "A QUIMERA DO RISO" dava uma ajuda: Argumento e direcção de PRESTON STWACTES, o renovador dos espectáculos cinematográficos explorando novos 'climas', novos assuntos". (*)

Por vezes, valia a comparação com outros filmes de maior sucesso. "TRADER HORN" publicitava-se à sombra de Tarzan: "Um filme como TARZAN"...

A referência ao "iluminado" que descobrira um talento também servia de credencial: "LINDA WARE, uma garota de 14 anos cuja voz maravilhosa veio assombrar o público, ou não tivesse sido uma revelação de Charles L. Rogers, que descobriu Deanna Durbin".

De quando em vez o celulóide ancorava prestígio no suporte original de onde fora adaptado: "DESTINOS TRÁGICOS -- Do romance de Leonida Reapaci, que suscitou tanto sucesso e discussão pela audácia do assunto, foi extraído este belo filme que renovará o interesse excepcional desta história de amor". "A ALEGRIA DO BATALHÃO" credenciava-se como "um filme extraído de uma deliciosa comédia de COURTELINE, o grande autor francês"; "AMOR DE PERDIÇÃO", "um filme da beleza e da emoção", desfolhava "as páginas imortais de Camilo transformadas em imagens inesquecíveis"; "VIDA DUM RAPAZ POBRE" fora extraído do "célebre romance de Octave Feuillet", o publicitário de serviço afiançava tratar-se de "um livro que todos leram".

"OS REVOLTADOS DO CAINE" (1956) trazia menção detalhada à carreira da obra de onde fora adaptado: "A Tradução em 16 IDIOMAS -- Milhões de exemplares vendidos em todos os continentes e depois o 'Prémio Pulitzer' consagraram UM LIVRO CÉLEBRE de Herman Wouk. O MAIS LIDO DEPOIS DA BÍBLIA! A Columbia Filmes baseando-se em tão excepcional obra produziu um filme também excepcional!" Em "SANGUE SELVAGEM" não valia apenas a indexação do filme à "emocionante novela de Jack London". Valia por isso, e pelo facto das obras do escritor serem "disputadas por todos os produtores do mundo". "CHAMADA PARA A MORTE" baseava-se "numa peça de teatro que esteve dois anos, triunfalmente, nos palcos de Nova York, Londres e Paris e já foi representada em 18 países!" "O GAVIÃO DOS MARES" não indicava extracção de nenhum livro, mas sim a referência de que o argumento havia sido publicado em folhetins no jornal "O Século". O mesmo com "TUDO ISTO E O CÉU TAMBÉM", folhetins agora no "Diário de Notícias". "FILHOS DO DIVÓRCIO" havia passado em folhetins radiofónicos na Emissora Nacional.


(*) A apresentação de Stwactes parecia tirada do argumento de sua própria autoria: "A história de um director de comédias desiludido pelos produtores que o não consideram capaz de realizar um drama; como dizem que não sabe sofrer, faltando-lhe o conhecimento da vida simples e quotidiana, procura em todos os ambientes da vida o assunto de que necessita".