O sucesso vendia-se, por exemplo, pelo tempo de exibição
noutros locais do mundo. "REBECCA", que passou na Lousã
a 14 de Outubro de 1942 assinalava-se como "o filme que na América
bateu todos os 'records' de receitas -- 6 semanas seguidas no maior cinema
do mundo". Para dissipar dúvidas nos cépticos do bom
gosto americano, seguia-se menção à carreira do filme
na capital lusa: "Um filme de rara beleza que o público de
todo o mundo consagrou, e que em Lisboa foi vibrantemente aplaudido durante
as suas exibições". Muitos filmes chegavam à
Lousã ainda o eco dos aplausos nas salas antecedentes se não
havia extinguido. E por certo havia palmas que doíam: "A
INFAME --um filme que o público aplaudiu com veemência!"
Por vezes, o sucesso de bilheteira surgia mesclado com galardões
conquistados pela película: "Este filme [AVENTURAS DE MARCO
POLO] que teve duas semanas de lotações esgotada nos
cinemas TIVOLI e POLITEAMA de Lisboa, ganhou da secção cinematografia
da S.D.N. a medalha destinada ao melhor filme de 1938".
"FIM DE SEMANA NO ASCENSOR" (1960) obtivera "em
Portugal a ORQUÍDEA DE PRATA, prémio do DIÁRIO ILUSTRADO
que galardoou a melhor película estreada em Lisboa no mês
de Maio". "AMORES REAIS" era "o filme mais classificado
do cinema espanhol!", seguindo-se lista dos cinco prémios outorgados
à película na vizinha Espanha. "JUDAS" era
"um filme de grande emoção premiado pela crítica
estrangeira e declarado em Espanha de interesse nacional". "UM
HOMEM E DOIS CAMINHOS" (1956) era "o filme das grandes ovações,
reconhecido pelo Círculo de Escritores Cinematográficos como
expoente máximo do cinema espanhol". E "VIAGEM SEM
VOLTA" havia sido premiado "pelo ministro dos estrangeiros
da república federal alemã, no festival Internacional de
Berlim, com a 'Taça de Ouro' para o melhor filme do ano!" "CAMÕES",
filme que estreara o novo Cine-Teatro em Outubro de 1947, voltava em 1955
"a pedido de vários frequentadores", e trazia registo
de aplausos: "Assombrosa criação do grande actor ANTÓNIO
VILAR, aplaudida em Cannes, Paris, Rio de Janeiro, Madrid e Londres".(*)
Sucesso através das receitas de bilheteira, mas também
pelas reacções que suscitava planeta fora. Verdade ou publicidade?,
o certo é que o despoletador emocional de "O DIREITO DE
NASCER" andava a comover "o mundo inteiro".
Nalguns casos, o atestado de qualidade era passado através da
reprodução de críticas extraídas dos jornais.
Assim aconteceu com "TEMPOS MODERNOS" (1937). O "Diário
de Lisboa" considerava o filme "grandioso", "o
mais belo de todos quantos Charlie Chaplin tem produzido": "...e
mais alguma coisa, que o riso desabusado que salta, como faísca
eléctrica, dos seus 'gags' fantásticos. Por detrás
dêsse sarcástico, na sua mesma carantonha, se fôsse
possivel imobiliza-la um instante, encontraríamos as rugas trágicas
do sofrimento. Tempos Modernos é um libelo contra a civilização".
Enfim, "obra que é preciso admirar -- porque é obra
genial, filha de um génio". A crítica jornalística
a provocar efeito redundante com os encómios publicitários,
a genialidade a subir aqui mais uns degraus: "Supremo génio
do Cinema", assim era epitetado Chaplin.
Do "República" respigara-se texto mais curto:
"O vulgar é a vida feita caricatura; este filme é a
caricatura feita vida". Críticas também em discurso
indirecto. O cartaz de "VALE DOS GIGANTES", que passou
pela Lousã em Junho de 1943, assinalava: "O jornal REPÚBLICA
disse, na sua crítica habitual, que o filme está feito com
passagens do melhor relêvo técnico, como a batalha no 'cabaret'
e a perseguição aos 'sabotadores'". Em "O ÚLTIMO
PARAÍSO", no Cine-Teatro em Março de 1959, publicavam-se
excertos de críticas de três jornais, e indicava-se o suporte
onde uma quarta prosa, mais desenvolvida, se encontrava acessível:
"Não deixe de ver este encantador filme de agrado geral para
todas as plateias e que a Empreza recomenda ao Exmo. Público. Leia
o que diz a crítica do jornal Diário de Lisboa em transcrição
no O Povo da Lousã desta semana". (**)
"TUDO ISTO E O CÉU TAMBÉM" merecera conselhos
da imprensa, dirigidos ao público: "Todos os jornais lhe fizeram
extensos elogios, aconselhando o público a NÃO FALTAR. SERIA
UM CRIME". (***)
(*) Sobre a estreia do novo Cine Teatro da Lousã, ver,
com detalhe, o livro de Dinis Manuel Alves,
"Do Teatro Club ao Cine Teatro da Lousã. Edição
da Câmara Municipal da Lousã,
1997.
(**) No cartaz do filme "A FUGA DE TARZAN",
as críticas do "Diário de Lisboa", "O Século"
e "Diário de Notícias", todas elas rendendo loas
à película, vinham rematadas com um peremptório comentário:
"O crítico só deve identificar a sua opinião
com a do público e escrever: bem muito bem". "O
SONHO DE BUTTERFLY", que passou na Lousã em 1943, não
devia o sucesso às críticas, apesar destas serem as melhores:
"O sucesso dêste filme não se deve aos elogios da crítica
que não podiam ser melhores, mas ao valor próprio que o público
é o primeiro a reclamar".
(***) O cartaz de "SANSÃO E DALILA" era
exemplar, no que ao aproveitamento das críticas favoráveis
dizia respeito. A gravura central do folheto aparecia emoldurada por cinco
textos publicados nos jornais "Mundo Desportivo", "A Voz",
"Diário Ilustrado", "República" e "Diário
de Notícias".
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