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Um famoso filme americano, com um esplêndido assunto português

"O TIGRE DOS MARES" talvez tenha sido publicitado noutros países enfatizando o pavor causado pelo tubarão. À margem, talvez uma pequena referência ao "pitoresco" da acção se desenrolar numa aldeia de pescadores portugueses. Entre nós, "nacionalizou-se" o filme, abençoando tais americanos que um dia de Portugal se lembraram. Tínhamos então "um famoso filme americano, com um esplêndido assunto português". No elenco, a par de Edward G. Robinson, Richard Arien, Zita Joahnn, Leila Bennet, J. Carrol Naish e Vince Barnet aparecia Manuel Silva. "O TIGRE DOS MARES" (1938) incluía "notáveis canções portuguesas" e as notas do cartaz não podiam ser mais reverentes ao bodo dos ianques. Aos espectadores portugueses prometiam-se imagens de um padre falando em "português puríssimo", meu Deus:

"Este filme, pelas suas características especiais, constitui um dos 'Clous' mais vibrantes e sensacionais da actual temporada. Trata-se de fonofilme americano de grande categoria, com assunto português. Pela primeira vez na história do cinema, os produtores de Hollywood abordam um entrecho que interessa profundamente às plateias que dominam o nosso ideoma. A acção desenrola-se numa aldeia de pescadores portugueses com aspectos interessantíssimos da vida e faina, enquanto no mar se nos apresenta um primoroso documentário da pesca do atum, frequentemente cortada pelo aparecimento dum tubarão, O Tigre dos Mares, que semeia o pânico e a morte entre a companha. Para as nossas plateias, há o redobrado interêsse, que reputamos verdadeiramente notável e emocionante, de se desejar assistir à cerimónia do casamento dum casal compatriota, em que o padre faz uma alocução em português puríssimo e metódico". Caso para dizer: nas notas, o tubarão tigre foi mesmo ao fundo!

Em 1940, dois anos após a passagem do temível tubarão, os portugueses agradeciam reverentes a Spencer Tracy o seu desempenho como "Manuel": "LOBOS DO MAR -- um filme que é um ORGULHO para todos os PORTUGUÊSES -- O grande actor Spencer TRACY no papel de MANUEL, o pescador português, canta algumas quadras e fala A NOSSA LÍNGUA".

Em 1955 era Lisboa que se anunciava estreante como cenário de um filme estrangeiro. "OS AMANTES DO TEJO" não iam a Maria nem a Joaquim, antes a Françoise e Daniel. E que bom que era, os estrangeiros descobrindo a nossa capital: "Pela primeira vez na história da cinematografia mundial, Lisboa e o Tejo -- o fado e a paisagem portuguesa numa produção da mais alta categoria técnica e artística" -- berrava ufano o cartaz. "Os Amantes do Tejo" contavam com a ajuda de Amália Rodrigues, argumento, custos de produção e tudo o mais seriam pormenores a criar ruído na mensagem publicitária que sabia dever apenas enfatizar o cenário, o ambiente: "O filme que conquistou o público português! Porque fala ao seu coração -- porque vive o seu ambiente -- porque envolve o seu sentimento". "VIDA DUM RAPAZ POBRE" também era estrangeiro, adaptação de romance de Octave Feuillet, o cartaz não explicava o porquê, talvez fosse por tratar de pobreza que se garantia "um argumento que nos fala á alma de portugueses"...


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