Heróis da tela, nobres actores

PORTUGAL, PORTUGAL, PORTUGAL, PORTUGAL

Todo o português que se preza deve ver êste espectáculo sensacional

Política na publicidade? Sim senhor. 1937, "REVOLUÇÃO DE MAIO": "é um filme de acção empolgante, é um hino de exaltação nacionalista". Noutro cartaz, o mesmo filme mesclava nacionalismo com internacionalismo: "(...) e finalmente é o cinema exaltando uma ideia: Portugal". Finalmente porque o princípio do reclame prometia música sem fronteiras: "uma linda canção pelo tenor José Rosa, uma canção brasileira por Rosita Serrano, uma canção russa por Eliezer Kamenesky". Os ventos do "Estado Novo" sopravam filmes fora: "A alma simples e ingénua do povo no filme O Caminheiro"; "as ceifas, as sementeiras, toda a lavoura bemdita dos campos". (*)

A guerra ali ao lado não deixava dúvidas quanto ao lado em que se postava o distribuidor do filme: "VISÕES DA GUERRA DE ESPANHA", um documentário "em trez partes de flagrante actualidade internacional", mostrava-nos "os aspectos mais impressionantes desta guerra civil". O que metia mais impressão era o vermelho avassalador: "MADRID SOB O DOMINIO DOS VERMELHOS -- Na Frente de Madrid, a Cidade Universitaria, Frente de Castellon, Os vermelhos saqueiam uma igreja, A Batalha do Ebro, A pequena cidade de Cabra destruida pelos aviões vermelhos, A Entrada dos nacionalistas em Castellon de la Plana, etc". Os nacionalistas não tinham cor, como se percebeu, e conquistavam terras sem molestar uma formiga que fosse, como perceberam!

"AS PUPILAS DO SR. REITOR", na Lousã também em 37, era português ao quádruplo: "Música portuguesa, canções portuguesas, a alma portuguesa, num filme português". "BOCAGE" era "o mais PORTUGUÊS de todos os filmes apresentados até hoje [Setembro de 1939]". Mas já em Janeiro daquele ano passara outro filme muito português também: "O TRÊVO DE 4 FÔLHAS é um filme Portuguez, feito por portuguezes. É um filme portuguez com cinema e com clous sensacionais com o já célebre Tango Assassino, e a divertidíssima viagem de Lisboa ao Porto em camionete, e a popularissima canção do Football, são passagens inesquecíveis. É um filme portuguez que assombrou Portugal". Em resumo, "um filme que honra Portugal e o seu cinema".

Em Maio de 1939 arribava à Lousã "GADO BRAVO", "o filme que fala ao sentimento nacional", "um hino triunfante", um filme familiar porque nosso, passado no nosso ambiente, "a bela paisagem da nossa terra", "a Canção portugueza da alma Ribatejana", "as ardentes paixões da gente lusitana", "o filme dos nossos costumes, dos fados e dos campos". A publicidade a "PÃO NOSSO", passado na Lousã em Março de 1942, vogava nas mesmas ondas. O filme "que orgulha a indústria nacional" prometia "o mais completo repositório da vida rude dos campos", tinha "lindas canções, um fado fadista, um tango delicioso, canções, coros, etc.", por junto "tudo quanto faz vibrar a gente portuguesa". "PÃO NOSSO" já havia passado em 1941, e aí a publicidade dirigia-se aos que se sentiam bem portugueses: "Se se sente bem português, veja êste filme português, feito por portuguêses e em Portugal".

Assistir ao filme ajudava a firma distribuidora, também a indústria cinematográfica lusa: "Amparar a indústria nacional, é contribuir para o engrandecimento da nossa terra" -- asseverava o cartaz.


(*) Nem sempre a vida campestre ajudava a vender um filme português. Em meados de 1941, o ruralismo celulósico parecia ter enfadado, vai daí "PORTO DE ABRIGO" asseverava-se um filme diferente: "Diferente de tudo quanto se tem feito em Portugal! Fugindo à acção banal e já muito vista dos costumes provincianos, êste filme baseia-se numa novela forte e emocionante". Os "clous" escolhidos para o cartaz atestavam que assim seria: "O laboratório do Professor Zenthul -- O Raio da Morte -- A Explosão -- A Perseguição no Barco Automóvel".