CINEMA SOLIDÁRIO

A linda vila da Louzã, auxiliando, com entusiasmo, a sua generosa mocidade, na fundação dum club desportivo, concorre, poderosamente, para o seu indiscutível progresso

Nem sempre as receitas se destinavam aos cofres da empresa que explorava o Cine-Teatro.Dos filmes exibidos em 1937, vinte viram as receitas reverter "em benefício do Hospital de S. João". O anúncio da acção filantrópica surgia várias vezes impressa de origem, noutros casos percebe-se ter sido aposta posteriormente, e referenciámos até um caso -- filme "O OIRO", em que tal indicação surgia manuscrita. O jornal "O POVO DA LOUSÃ", semanário nacionalista, constatava a 13 de Fevereiro de 1937 que o Hospital de S. João vivia de esmolas: "O Hospital vive de esmolas, e sempre temos afirmado que toda a gente pode dar uma esmola se tiver boa vontade de ajudar o Hospital. As esmolas não são privilégio dos ricos. Um grupo de rapazes da Louzã acaba de dar um lindo exemplo de que assim é. Referimo-nos á Orquestra -Jazz dos Amigos do Hospital que fez a sua estreia tocando nos dias 6 e 8 do corrente nos bailes promovidos pelo União Desportiva Lousanense (...) Estes rapazes não dispõem de dinheiro, mas a boa vontade deles representa uma incalculavel riqueza que ofereceram aos pobres da sua terra. A receita que obtiveram reverterá inteiramente para auxilio do Hospital da Louzã (...) Bom seria que este exemplo fôsse seguido porquantos podem mas a quem só falta a boa vontade". "MARÉ DE SORTE" e "M-MATOU" também deram uma ajuda ao carenciado hospital.

Em 1943, o programa duplo "DANÇARINA DE RUA" mais "HEROINAS DO ESPAÇO" anunciava-se como "grandiosa sessão cinematográfica em benefício dum grupo desportivo em organização". Em rodapé, longo texto justificando a necessidade dum "club desportivo", factor de progresso e verdadeira escola de energia e disciplina: "O futebol, como desporto, representa uma verdadeira escola de energia e de disciplina. Jogo de emoções violentas, que apaixona as multidões, impõe-se pela belesa dos lances das jogadas e das suas manifestações atléticas. A linda vila da Louzã, auxiliando, com entusiasmo, a sua generosa mocidade, na fundação dum club desportivo, concorre, poderosamente, para o seu indiscutível progresso. O desporto, principalmente o futebol, é hoje um dos mais formidáveis elementos progressivos duma terra e um indice incontestável da sua cultura e da sua vontade de viver. Lousanenses! Auxiliai a vossa mocidade, concorrendo para o progresso da vossa adorável Louzã".

Três anos depois, em 1946, as receitas de uma sessão de cinema destinavam-se à compra de equipamentos do Club Desportivo Lousanense. O título do filme parecia escolhido de molde a estimular a mocidade do futebol: "CONFIANÇA NO FUTURO!"

No mesmo ano encontramos cartaz com menção a uma acção de solidariedade bem diversa: "EDUCAÇÃO PARA A MORTE" trazia apenso uma nota: "O produto líquido deste espectáculo, reverte a favor da Viúva e Filhos do desventurado José Dias Anastácio, que foi grande amigo desta Emprêsa", no caso o "Cine-Teatro Lousanense".

Na exibição de "A REVOLUÇÃO DE MAIO", a 27 de Maio de 1955, os pergaminhos do filme limitavam-se ao apodo de "magnífico". A sedução para uma visita ao nimas passava toda pelo apoio à equipa de futebol da terra. Um filme português, então, para homenagear a "briosa equipe do CLUBE DESPORTIVO LOUSANENSE". Qual Padeira de Aljubarrota da pela, a equipa da Lousã atestara três secos na baliza de um clube espanhol não nomeado: "HOMENAGEM À BRIOSA EQUIPE DO CLUBE DESPORTIVO LOUSANENSE QUE BRILHANTEMENTE VENCEU O TEAM ESPANHOL POR 3-0" -- gritava o cartaz, para ordenar em seguida: "Que ninguém falte à homenagem a prestar aos nossos briosos jogadores". O cartaz indicava ainda que a exibição do filme se dava "em véspera da sua [da equipa] partida para Espanha", por onde se auguravam muitas revoluções da pela na baliza adversária. Em complemento, e a condizer com a aventura dos futebolistas lousanenses pelas inóspitas estranjas, passava "O EMIGRANTE".


FIM DO CAPÍTULO