ADMIRÁVEL PÚBLICO

Faz bem ver filmes como O CREADOR DE ESTRELAS -- Distrai o espírito, diverte-nos, dá-nos aquela alegria e optimismo indispensáveis para triunfar na vida

O cinema-espectáculo precisava de multidões para continuar a dar espectáculo, logo interessava que toda a gente acorresse, novos e velhos, ricos e pobres, homens e mulheres: "Um programa para todos os públicos", garantia o folheto que em 1939 publicitava "MATARAM!" e "ORGIA DOIRADA". Se Johnny Weissmuller era, obrigatoriamente "o atleta que apaixonou o público feminino", não se podia dispensar a fatia mais máscula da plateia. Logo, Johnny Weissmuller, "o atleta que apaixonou o público feminino", era também "o campião olimpico que os homens aplaudem".

"MARIA WALEWSKA" servia para todos os públicos, os conhecedores de história, e os ignorantes: "Se conhece a história da França, veja neste filme, o brilhantismo da sua descrição. Se não conhece a história da França, vá ver neste filme uma das suas páginas mais brilhantes". Se... vá; se não... vá ver também, era esquema publicitário que servia para muito e bom, e mau filme.

"ATRIBULAÇÕES DE CHARLOT" servia a novos e velhos: "As mais divertidas peripécias de CHARLOT num filme em que nos mostra um assunto completamente novo para a geração moderna e que os da velha guarda também se regosijarão de ver mais uma vez". "A FAMÍLIA TRAPP NA AMÉRICA" mantinha o leque etário alargado, mas balizava-o: "Um filme adorável que encanta toda a gente dos seis aos noventa anos!" "O RAPTO DE JANETTE" era um filme "que deve ser visto para boa compreensão dos filhos para com os pais". "COM QUEM ANDAM AS NOSSAS FILHAS" bisava a razão do "dever-ver": "Um filme maravilhoso, rico de emoções e de ensinamentos, que todos os rapazes, raparigas e todos os pais devem ver..."

A publicidade aos filmes entrava corpo do telespectador dentro, antecipavam-se reacções: "O Caminheiro que adorando a liberdade, se vê envolvido num drama rústico cheio de beleza que vai direito ao coração dos espectadores..." "FREIRA CIGANA" seguia percurso parecido, mas com início e fim bem determinados: "Um filme que entra pelos olhos para chegar á alma"; "A TORRE BRANCA" obrigava à entrega de todo o corpo do espectador: "Os vossos olhos ficarão deslumbrados! Os vossos corações palpitarão como nunca! Os vossos espíritos extasiar-se-ão!..."

Os empedernidos liquefaziam a dureza quando frente à tela mágica: "PAINÉIS DA VIDA" apresentava-se como "um drama violento e emotivo que faz vibrar o espectador mais insensível"; "MADALENA", que passou na Lousã em Julho de 1955, era cópia chapada do anterior: "Um drama violento e emotivo que fáz vibrar o espectador mais insensível". "AS PONTES DE TOKO-RI" (1958) prometiam frémitos constantes:"Veja o filme que o emocionará da primeira á última imagem". "MARCELINO PÃO E VINHO" mexia com o espectador, a bem da humanidade: "Vai comovê-lo, vai surpreendê-lo e ajudá-lo a ser melhor" -- garantia o cartaz.

"AINDA ACONTECEM MILAGRES" era impróprio para cardíacos: "Um caso original em que a dor de uma mãe parece cravar punhais de angustia no nosso coração". "AMOR DE PERDIÇÃO" (1955) trazia botijas de estimulantes lacrimogéneos: "Um filme que faz chorar sem que ninguém se envergonhe por ter chorado!" "TENÓRIO À FORÇA" haveria de continuar a ser exibido mesmo depois do Cine-Teatro fechado, mais propriamente na cama dos espectadores: "Depois de ver TENÓRIO À FORÇA, sonhará certamente com TENÓRIO À FORÇA". "GIGANTES DO CÉU" oferecia segundas e terceiras exibições gratuitas, um filme "que perdurará na memória de todos". Cartazes cruéis, por vezes, lembrando sonhos impossíveis de concretizar: "Todos desejariam esperar à saída a encantadora e azougada Raínha do Cinema", de seu nome Betty Grable.