Mesmo quem não goste... terá que ir ver pois a curiosidade será mais forte!
Ver um filme para dele podermos falar, e não nos sujeitarmos
à vergonha de dele nada saber dizer:"ADVERSIDADE"
era "o filme de que toda a gente fala". Ver um filme para ter
motivos de conversa nos meses seguintes: "SALÁRIO DO MEDO
é um filme de que se falará durante muito tempo". Ver
um filme, para poder voltar: "ESCOLA DE VAGABUNDOS" (1958)
"uma produção sensacional e extraordinária que
V. verá muitas vezes!" Ir ao nimas aproveitar a única
oportunidade de assistir ao irrepetível: "NO
REINO DAS FADAS" (1959), "um filme absolutamente diferente
de tudo quanto se tem feito e que jamais se voltará a fazer!"
Ida ao nimas porque a curiosidade é motor de muito rico corpinho
pouco dado a fitas: "Mesmo quem não goste... terá que
ir ver pois a curiosidade será mais forte!" -- e mais um bilhete
aqui para "O RITMO DO SÉCULO".
O cinema mais barato que uma ida ao psiquiatra: "Está aborrecido? Vá ver FEITIÇO DO TRÓPICO, remédio infalível para as neurastenias". Charlot seguia na mesma linha: "CHARLOT é o melhor remédio contra as depressões e tristezas -- Vale mais uma fita de Charlot que muitas outras de grande publicidade. Em cada metro há uma risada". "CAVALGADA DO RITMO" vendia-se como "um filme para animar o espírito, com belas cenas de pancadaria...", o murro em reacção simpática com o humor dos espectadores... "O CONDE MAX" (1959), proporcionava "um verdadeiro mano a mano entre os cómicos mais geniais do cinema", razão então para se considerar o filme como "um verdadeiro manancial de saúde, o mais eficaz remédio para quem sofra do fígado": "Se o riso é salutar, não perca esta oportunidade de melhorar a sua saúde" -- sugeria o cartaz. "Um filme que faz esquecer tôdas as tristezas da vida para dar lugar à mais sã alegria" -- jurava o cartaz de "DOIS AZELHAS COM SORTE". Em 1956, ter estofo para rir bastante era sinónimo de juventude: "Quando fôr ver este filme, vá juvenil para rir duas horas sem parar!" -- a sugestão deixada aos potenciais espectadores de "CANTINFLAS NO CIRCO". "Não deixe V. Exa. de ver êste filme, que o não deixa pensar em tristezas" -- recomendação destinada a encher a sala onde seria exibido "FERNANDEL EM PALPOS D'ARANHA". "Sofre V. Exa. do fígado?" -- perguntava a promoção de "O RECRUTA E O GAIATO". "É neurasténico? -- É-lhe doloroso pagar a renda da casa... Apertam-lhe os sapatos? Não tem importância! Esquecerá tudo vendo O RECRUTA E O GAIATO". (*) "TEMPOS MODERNOS", que em 1956 passava em reprise na Lousã, agora com "cópia nova técnicamente actualizada", também publicava lista de males de cura garantida por Charlie Chaplin: "Se está cansado das anedotas com barbas, da fita de faca e alguidar, de esperar pela sorte grande... Se vê a vida mal... o custo da vida, a renda da casa, as contribuições... Se anda doente: dos calos, com neura ou com a derrota do seu clube... Se tem preocupações: com a sogra, a 'lambreta' ou a queda do cabelo... Este é o remédio para todas as doenças!..." "SUSPIROS DE TRIANA" encerrava "um tesouro de alegria!... Deixa os corações em festa e conforta o espírito!" "A AVÓ ISABEL" fazia rir mesmo antes de começar: "O filme em que só o Trailer já é um espectáculo de gargalhada!" O mesmo valia para "AS FÉRIAS DO SR. HULOT": "Como todos os grandes filmes, AS FÉRIAS DO SR. HULOT obteve muitos prémios... mas o melhor prémio é o riso do público, que só com o filme anúncio ri ás gargalhadas!"
(*) "AS FÉRIAS DO SR. HULOT" não se inseria nos padrões habituais da comédia. Nas entrelinhas do texto promocional pressentem-se as dificuldades em lidar com o estilo do "figurão cómico" Jacques Tati, desencadeador de três tipos de riso: "A revelação dum figurão cómico que revolciona a farsa! -- Com André Dubois, René Lacourt, Nathalie Pascaud, Valentine Camax e Jacques Tati na figura dum incrível figurão cómico! -- A história de um modesto e estranho homem que nunca fala, esquisito e galanteador, guiando o seu velho e desconjuntado automóvel, a caminho de uma praia em gozo de férias. Ali encontra outros tipos tão excêntricos como ele, em manias ridiculas e bizarrias, resultando no conjunto um torvelinho fantástico de peripécias que apresentam o riso sob três facetas distintas: o estridente, o silencioso e o racional". |
FIM DO CAPÍTULO