A honra de apresentar uma incógnita empolgante...
Em "CAPITÃO ÁFRICA", a gravura do "actor
atleta" John Hart, mascarado no cartaz, jogava com a pergunta que
a estratégia publicitária queria ver respondida dentro da
sala de cinema: "Quem é o misterioso Capitão África
sempre disposto a defender os fracos e oprimidos?" (*) O cartaz
de "SAFIRA" trazia pontos de interrogação
do princípio ao fim. O mistério começava e bem muito
antes do início do filme. O IMPÉRIO CINE-TEATRO, através
da Empresa Socorama da Lousã, Lda, que noutras fitas tinha "a
honra de apresentar" "maravilhosos filmes", "um filme
a todos os títulos sensacional", ou "um filme de empolgante
emoção", desta feita, estávamos a 21 de Agosto
de 1960, tinha "a honra de apresentar uma incógnita empolgante...".
E a incógnita desaguava em ponto de interrogação,
óbvio, na frase "QUE RAZÃO FORTE ditou a morte de
Safira?" Magnânimos, os publicitários não
deixavam o potencial espectador desnorteado, balizavam-lhe as apostas com
cinco valiosas pistas:
1º -- Por fazer uma vida dupla? 2º -- Por ser odiada pela família do noivo? 3º -- Por frequentar lugares suspeitos? 4º -- Por querer passar por aquilo que não era? 5º -- Por ter a mania do 'Jazz'? O mistério havia apaixonado Lisboa "... e fes esgotar durante três semanas a lotação do maior cinema da capital: o S. JORGE". Quem não se quisesse dar ao trabalho de telefonar para Lisboa, pedindo desfecho antecipado ao primo que esconjurara o interior, ainda tinha direito a mais uns pormenores deste "SAFIRA", um "filme policial do mais puro classicismo cinematográfico, denso de vibrante suspense, empolgante de sugestiva acção, emotivo de conteúdo psicológico: "SAFIRA, interessa para além da incógnita de saber quem matou para nos arrastar na emocionante expectativa de saber porque razão uma linda rapariga aparece assassinada nas mais violentas e singulares circunstâncias. A questão primordial, emotiva e apaixonante" -- continuava o atencioso folheto --, "consiste, precisamente, em interpretar as premissas que, do ponto de vista psicológico, possam ter influenciado o acto criminoso". A concluir, em vez de ajudar, baralha-se o potencial espectador. Pensava ele que estando atento às "premissas do ponto de vista psicológico" conseguiria dilucidar o enigma num abrir e fechar de olhos, e afinal de contas o folheto garantia que haveria de ser enganado! "Que razão suficientemente forte ditou a morte de SAFIRA? O espectador sente que, de facto, o criminoso não podia ser outro -- embora se 'arrepele' um tanto por não o haver descoberto anteriormente!..." Em "UM ANJO NEGRO", a pergunta formulada no cartaz sugeria tomada de posição do leitor, e quase indicava a resposta: "Acha possível que uma mãe renegue a própria filha... por não ter como ela a pele branca e os cabelos loiros?" Perguntador era também "CORAÇÃO APAIXONADO", de 1958: "Pode uma jovem mãe viúva voltar a amar? Têm os filhos o direito de interferir nos problemas amorosos dos pais?" A divulgação, no cartaz, dos títulos dos episódios em que o filme se dividia geraria por vezes mais impacto que o título do próprio filme. Eficácia potenciada desde logo pelo multiplicar de títulos publicitados; garantia de suspense do princípio ao fim, até porque alguns episódios vinham titulados com mais impacto que o filme que os albergava. "Raio que cega" ou "A sombra que escuta" talvez provocassem mais apetência para uma ida ao cinema que o título do filme, aqui "O AGENTE SECRETO X 9". Atente-se na lista: "1º -- Piratas modernos 2º -- O raio que cega 3º -- O homem das mil caras 4º -- A sombra que escuta 5º -- Chamas traidoras 6º -- A emboscada 7º -- Lábios selados 8º -- A prova acusadora 9º -- Olhos vendados 10º -- A mentira fatal 11º -- No campo do inimigo 12º -- O triunfo da justiça".
(*) Os filmes de mascarados pareciam destinados a publicitarem-se com interrogações. "MORTE VERMELHA", o filme "das mais audaciosas aventuras do CAPITÃO AMÉRICA" também interpelava bastante o leitor do cartaz: "Quem será o pavoroso ESCARAVELHO que enche de terror a humanidade inteira? Quem será o misterioso MASCARADO que espalha o bem, lutando contra os maus? -- Eis a pergunta que todos farão na exibição do formidável filme..." |
FIM DO CAPÍTULO