Os milhões gastos, elenco superabundante de estrelas, massa de figurantes, gigantismo dos cenários construídos, variedade dos locais em exteriores e a tecnologia dos efeitos especiais são elencados por Eduardo Geada como os condimentos-base do "cinema-espectáculo": "O cinema espectáculo preza em mostrar no écran para onde foi o dinheiro gasto na sua produção. Como se a visibilidade da despesa com o fabrico do filme justificasse a despesa do espectador com a compra do respectivo bilhete. Como se o lucro das receitas de bilheteiras -- por um fenómeno bizarro de atracção do capital -- fosse forçosamente proporcional à quantia investida no filme. A política da superprodução é a outra face da crença no superconsumo. De entre os vários factores visíveis da atracção pela acumulação, os principais são sem dúvida o elenco de estrelas, a massa de figurantes, o gigantismo dos cenários construídos, a variedade dos locais em exteriores e a tecnologia dos efeitos especiais. A superprodução conduz, assim, na maior parte dos casos, a modelos de filmes nos quais o eixo da ficção é sobredeterminado pelos custos materiais e pelas fontes de financiamento. A preferência da superprodução pelos universos da fantasia, como o musical e a ficção científica, e pela epopeia histórica ou mítica, por exemplo, advém da oportunidade em reunir várias vedetas em papéis de prestígio -- os heróis do consumo tornam-se assim heróis culturais -- em ordenar geometricamente múltiplos figurantes, em exibir sumptuosos cenários e guarda roupa, em recorrer a paisagens longínquas, -- que facilitam as co-produções -- em conciliar o exótico do passado (ou do futuro) e de outras civilizações com a estilização das modas actuais, em promover a venda de produtos derivados na conjugação com essas modas, enfim, em recriar a dimensão do mundo à imagem do cinema".

GEADA, Eduardo. "O Cinema Espectáculo", pág. 83.