V. Exa. minha senhora não deixe de ver este encantador filme
As plateias tinham mais homens que mulheres, estas talvez fossem mais
pelo tema, eles mais por elas. Se elas fossem por eles encontrariam "o
viril e simpático António Vico", o "enérgico
e viril" Alan Ladd, o "másculo" Arturo
de Cordova. Eddie Constantine era "o bruto simpático do
cinema francês". Dele dizia o público: "Ele
é violentíssimo! Ele é formidável!".
Burt Lancaster desempenhava em "ATÉ
À ETERNIDADE" o seu "maior papel humano e viril";
Eric Portman e John Mills eram "fermosos artistas", Rossani
Brazi "o mais encantador e o mais fascinante galã do cinema
italiano", Jean Marais o "ídolo das plateias femininas",
Johnny Weissmuller "o atleta que apaixonou o publico feminino",
Carlos Baena "atleta e famoso actor", Jack Palance "astro
cintilante"...
Se eles fossem por elas, ficariam melhor servidos nos encómios... Lola Flores era "um autêntico vulcão em erupção"; Lucrécia Borgia fora "a mais bela das mulheres"; Katherine Hepburn, "a maior artista do mundo", era em sintonia "a exímia, a excelsa"; Sarita Montiel a "Bomba Latina", Sofia Loren "a bomba anatómica", Ava Gardner "a mais bela mulher do cinema"; Gina Lollobrigida "a mais famosa actriz de todos os tempos"; Michèle Morgan "a actriz de rosto sem igual", a actriz "cujo maillot se coaduna com a sua maravilhosa plástica..."; Betty Grable "a Rainha da alegria e do Tecnicolor", Thelma Todd "a grande e escultural actriz", Mylène Demongeot uma "adorável criatura, de rara beleza sensual". Carmen Sevilla uma vez "lindíssima e eminente", outra "magistral, endiabrada e linda"; Rita Hayworth "maravilhosa" e "soberba", Martha Eggerth "a insinuante e distinta actriz"; Susanna Canales era "uma rapariga para não esquecer tão depressa", Silvana Mangano "bela como sempre, mas actriz como nunca", Maria Frau era "uma mulher para não esquecer", Elsa Aguirre era "linda, ardente e escultural", Eleonora Rossi Drago tinha "beleza sincera e sem artifícios", Audrey Hepburn uma "princezinha de encanto", Paulette Godard "a vénus estilisada"; Deanna Durbin "a ingénua encantadora". Silvana Pampanini, "a vedeta da beleza provocante" que no filme "A MULHER QUE INVENTOU O AMOR" só podia aparecer "em todo o esplendor da sua extraordinária feminilidade". Já em "O.K. NERO", la Pampanini era lembrada como "a bomba atómica do Sex appeal", em "O EXPRESSO DO ORIENTE" passava a "perturbante e escultural", e em "TEMPESTADE" conquistava estatuto de "vamp nº 1 da actualidade, a mais agressiva do cinema italiano"... Os críticos de cinema deixavam-se extasiar em frente a uma tela transbordante de belas mulheres: "FOLIES BERGÉRE (...) a que não falta um poucochinho de música e mulheres estonteantes. É um espectáculo admirável, a vista delicia-se na contemplação de conjuntos de lindíssimas raparigas, frizos de beleza e mocidade animados pelo movimento de saltitante música de baile americana" -- escrevia-se no "SÉCULO", em 1939. Dominique Wilms, Claudine Depuis e Louise Carletti eram "três beldades anatómicas que farão explodir o écran" em "QUEM MANDA SÃO ELAS", um filme de acção "diferente de todos os outros porque o sexo-fraco tem o papel principal". Ao "sexo-fraco" puxava-se-lhe pelas fraquezas do sentimento, prometiam-se-lhe lágrimas, muitas... "TORTURA DE MÃE" publicitava-se como "um drama que enternece até ás lágrimas e conquista o coração das mães". As mulheres, está visto, mais propensas a activar o saco lacrimal que os espectadores-machos. "Crítica" não nomeada inserta no panfleto de "TENS DE VIVER" confirmava-o: "Há mulheres predestinadas para o sacrifício, esquecendo-se de si próprias para só cuidarem da felicidade alheia, como esta bondosa Yolanda, heroína deste filme mexicano 'Acuerdate de vivir' que Roberto Gavaldon realizou com forte acento dramático e vigoroso poder emocional, segundo argumento de Alexandro Verbitky e Mauricio Magdaleno, e que sensibiliza até às lágrimas os corações femininos". "SENTIMENTO", pela Lousã em Maio de 1956, aparecia como "o famoso filme de Luchino Visconti destinado a todas as mulheres que sabem compreender que o amor justifica tudo!" "O DIREITO DE NASCER" era dedicado "a todas as mulheres que sofrem", no caso as que sofriam por se verem obrigadas a renunciar "ao fruto do seu amor" por mor das "conveniências sociais". "FILHOS DO DIVÓRCIO" aparecia como o segundo filme da "SÉRIE CONSCIÊNCIA E PECADO", série inaugurada por "O DIREITO DE NASCER". O filme que despertava "francas polémicas contra e a favor do divórcio" trazia sugestão ao público feminino: "V. Exa. minha senhora não deixe de ver este encantador filme". "SEGREDOS DE ALCOVA" era o filme "mais feminino do ano!"; "O ANJO MUDO" "um filme dramático, romantico, enternecedor, para os corações femininos". A "COISAS DE MULHER" bastaria o título para aguçar a curiosidade da plateia feminina, mas o cartaz reforçava o apelo: "Um deslumbrante desfile de modas com as mais belas criações de DIOR, FATH e DESSES, apresentadas por ZULLY MORENO -- Aconselhamos todo o público feminino a ver este filme". Em 1956 "A PROVINCIANA" servia-se como "um romance de penetrante interesse para as mulheres. Confortante para as desiludidas, instrutivo para as ambiciosas, tonificante para as insatisfeitas". Também para as apaixonadas: "Mulheres apaixonadas! Não deixem de ver este filme". "OS FILHOS DO AMOR" trazia, no cartaz, palavras de compreensão para com as mães solteiras, aquelas "que foram traídas pela vida e pelo amor": "Acima de tudo elas são mães, e esta palavra redime todos os erros!" "A MINHA VIDA É TUA", "obra italiana sincera de poesia que comove até às lágrimas" era "um novo romance que fala ao coração", "um filme que todas as mulheres devem ver!"; "AINDA ACONTECEM MILAGRES" também devia ser visto por todo o público feminino, com a chancela autorizada da primeira dama dos EUA: "Um filme que todas as senhoras devem ver e que mereceu os melhores elogios de Eleanor Roosevelt"; "UMA ESPERTALHONA" era "uma comédia estupenda de que todas as senhoras gostam"; "A ROSA DO ADRO" "o filme que tôdas as almas femininas sentem e compreendem!", "DONATELLA" uma "história encantadora que toda a mulher desejaria viver!" Mulheres poderosas, também: "PASSOU UMA MULHER -- A história de um galanteador que se julgava irresistível e se apaixonou por uma jovem aventureira que acabou por fazer dele um farrapo humano". "MINHA ESPOSA E A OUTRA" servia mulheres e homens, com efeitos diversos: "Um problema amoroso que todas as mulheres compreenderão e ante o qual muitos homens sentirão remorsos de consciência". "UMA MULHER DECENTE" também desencadeava efeitos diferentes em homens e mulheres: "Um filme de que todas as mulheres gostarão e em que os homens têm que aprender", ou não se tratasse de "uma magnifica homenagem á mulher e uma áspera censura a certos homens". "NOITE QUE NÃO VOLTA" contava "uma história que todas as mulheres compreendem e os homens desejam", a história "de um amor eterno que só durou uma noite"..., um filme "para todas as mulheres que sonham com a felicidade". "JUSTIÇA DOS HOMENS", pela Lousã em Julho de 1945, se era um filme "revelador da índole dos homens", também comportava "argumento que entusiasma todas as senhoras". "Que faria V. se, de repente, lhe nascesse um filho de 16 anos?" -- perguntava o prospecto de "ORQUÍDEAS PARA MINHA ESPOSA", um filme "para ver e meditar", para ser visto pelas "senhoras" e numerosas proles: "V. Exa., minha Senhora, não deixe de ver este encantador filme assim como seu Marido, Irmãos, Pais, etc". "DOIS DIAS NO PARAÍSO" (1958), incluía "uma mulher que parece frívola e que conserva intactos os bons sentimentos da mulher portuguesa". O drama "vigoroso e profundamente humano que é uma dura realidade" e que foi à tela com o título "BARRO HUMANO" era "um filme comovente para todas as mulheres casadas que brincaram com o amor". "COM QUEM ANDAM AS NOSSAS FILHAS" (1959) dava direito a pergunta com remate moralista: "Decerto já fez a si mesmo estas perguntas: Já pensou nos graves perigos que encerra a vida cotidiana das grandes cidades e na influência nefasta das más companhias ou amizades? -- Proteja sempre as suas filhas destes perigos: DESEJO! CALÚNIA! MALDADE! AMOR! SEDUÇÃO!". O espaço dedicado ao argumento moralizava mais do que detalhava pormenores do filme: "É a história de uma juventude que sem pensar entra alegre e confiada na vida. Uma acusação contra os pais que esquecem os seus deveres. É a história desses jovens que se perderam pela indiferença assim como pelo excesso de amor dos seus pais. A vida moderna está cheia de perigos para a juventude. Eis porque a educação dos pais é tão difícil nos nossos dias. Um filme que lança um aviso a todos os pais"... |