Ao cimo da Rua Martins de Carvalho, junto ao portão do mercado (de que se vê um dos cunhais) existiu
este edifício, que viria a ser demolido
Mas
todos os arranjos eram remendos que em breve se mostravam insuficientes para as
necessidades crescentes de uma população que se expandia e para a melhoria das
condições cada vez mais exigida. O velho sonho de um mercado construído de raíz,
num outro lugar mais desafogado, era uma miragem cada vez mais difícil de
concretizar, tanto mais que os possíveis locais para o efeito iam sendo
progressivamente urbanizados. E o Mercado do Calhabé, inaugurado em 1942, pela
sua exiguidade, não contribuira significativamente para atenuar a pressão que
se fazia sentir no mercado principal.
Impunha-se,
pois, uma completa remodelação do Mercado D. Pedro V. Nesse sentido, é
apreciado na sessão camarária de 11 de Feveriro de 1965, um projecto da
autoria do Arqº Alberto Pessoa, há muito em estudo, que previa o alargamento
da Rua Olímpio Nicolau Rui Fernandes, com construção em altura, e que reduzia
a zona de terreno ocupado de 7.500 para 3.100 metros quadrados. O certo é que o
projecto, como vários outros, não passaria do papel, continuando as pequenas
reparações, os leves arranjos, que só momentaneamente solucionavam os
problemas. E, na própria Câmara Municipal, em sessão de 25 de Março de 1969,
um vereador, António Nunes da Costa, faz duros comentários ao estado de
degradação do mercado, chamando para o facto a atenção do presidente.
A
situação arrastava-se, sem que uma solução definitiva fosse encontrada. Nas
actas das sessões camarárias, em 1972, encontramos um retrato das carências e
insuficiências do velho espaço. E é o próprio presidente, Engº Araújo
Vieira, que, em 29 de Setembro, nos dá conta da situação. Depois de se
referir à desactualização e envelhecimento dos mercados de D. Pedro V e do
Calhabé, acrescenta que "o afluxo do público, que ocorre àqueles
mercados, sobretudo ao primeiro, faz com que aumentasse a oferta de produtos que
se avolumam nos lugares de venda, em quantidades industriais". De novo, em
13 de Outubro, após referir os reparos da Imprensa, apontando faltas e deficiências,
continua: "Embora a comercialização dos produtos se faça assim há
dezenas de anos, hoje não são toleráveis a comercialização praticada nem o
tipo de instalações utilizadas. Os conceitos de higiene a respeitar, a forma
de limpeza a impor e os tipos de instalações a utilizar para os produtos
comercializados, obrigam a Câmara a tomar medidas enérgicas, rápidas e
eficientes. Não se pode admitir a falta de higiene no mercado, tolerar instalações
inadequadas à concepção de limpeza e asseio, nem fazer do chão o vazadouro
dos produtos deteriorados, cascas de frutos ou de restos de produtos alimentícios.
Não se pode tolerar barracas improvisadas nos locais de passagem do público,
somente porque são pontos estratégicos de venda, deixando vazios os lugares próprios".
E
preconiza que o local se destine apenas a produtos alimentares, com exclusão de
tecidos, lãs ou confecções, dando conta de terem sido distribuídos vários
recipientes de lixo e anunciando a remodelação do piso, para permitir uma
lavagem eficiente e rápida, prosseguindo: "Não iremos fazer grandes
obras, mas apenas as necessárias para tornar o Mercado D. Pedro V limpo, bem
arrumado e higiénico", concluindo irem ser construídas bancadas para que
os produtores pudessem expor os seus produtos, tão do agrado do público, em
condições higiénicas e asseadas. E, na sequência destas medidas, e com o
aplauso da União de Grémios dos Lojistas, é proibida a venda de artigos que não
sejam de alimentação, não sendo renovadas as respectivas licenças para o ano
de 1973. Neste ano é igualmente deliberado que o mercado passe a fechar as suas
portas às 15 horas, e a partir de 1974 passaria também a estar encerrado aos
domingos.
Entretanto,
lá se iam fazendo as reparações absolutamente necessárias, até que, em 2 de
Junho de 1976, foi presente à vereação presidida pelo Dr. Carrington da Costa
mais um ante-projecto, tendo a comissão respectiva deliberado submetê-lo à
apreciação do vogal Engº Santos Moreira e do Gabinete de Urbanização. No
entanto, conforme a informação do vereador Dr. Armando Gonçalves, em 10 de
Março de 1977, as obras não poderiam avançar sem ser conhecida a localização
do futuro mercado abastecedor. E em Maio de 1978 foi presente à sessão o
estudo, sendo remetido aos Serviços Técnico-Especiais, para ser concretizado
com a celeridade possível. Continuando a procurar-se minimizar as deficientes
condições do mercado, é adjudicada em 26 de Junho de 1979 a cobertura do
pavilhão da hortaliça e salsicharia, recebendo um ano depois a cobertura do
pavilhão do peixe mais uma das suas repetidas reparações.
Chegados
a 1982, o estado da velha praça suscita ao director do Centro de Saúde
Distrital um ofício-exposição que envia à Câmara Municipal, documento
analisado na sessão de 13 de Setembro, em que se alertava para que a edilidade
atentasse "muito seriamente na transformação, remodelação ou melhor
localização do Mercado D. Pedro V, cuja degradação se vem a verificar desde
há anos". O presidente, Engº Santos Moreira, historiou os vários estudos
que, de há muito tempo, vinham sendo feitos com esse objectivo, tendo prometido
fazer as diligências necessárias para que a remodelação fosse um facto,
devendo ser inscrita, no orçamento do ano seguinte, uma verba para o efeito.
Nesse
ano de 1983, o vereador Viterbo Correia apresenta uma proposta, aprovada em sessão
camarária, para que fosse contactado o Arqº Alberto Pessoa para efectuar um
eventual projecto para o Mercado D. Pedro V. Dessa proposta constava ainda a
imediata cobertura do recinto das hortaliças e a construção de um bar de
apoio. E, com efeito, o pavilhão referido foi coberto nesse ano, sendo o último
melhoramento significativo, iniciando-se igualmente o processo do café-bar,
concluido em 1986.
O
mesmo vereador iria propor em 1984 que fosse efectuado um estudo de remodelação
e criação de mercados, trabalho entregue à Empresa Geral de Fomento, que o
concluiria no ano seguinte, e de que constava não só a remodelação dos
mercados existentes, mas também a criação de novos, nomeadamente em Santa
Clara e Montes Claros.
Era
então presidente da Câmara o Dr. Mendes Silva, que entre 1984 e 1986 viria a
proceder a significativas alterações na zona envolvente do mercado. Foi o caso
da colocação de paineis de azulejo, com reproduções de monumentos da cidade,
da autoria de Amílcar Martins, no muro da cerca da Escola Jaime Cortesão, da
construção duma escadaria no local em que se erguera a Torre de Santa Cruz,
para onde foi transferida a Fonte Nova, o ajardinamento do espaço em frente do
pavilhão do peixe, com a colocação de uma taça de água e o desaparecimento
do abrigo dos transportes colectivos aí existente (2).
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(2) - Este abrigo, construído no mandato do Presidente da Câmara Brigadeiro Correia Cardoso, era conhecido na gíria coimbrã pelo abrigadeiro, numa bem humorada alusão à patente militar do presidente.