No mercado do peixe, um grupo de peixeiras acolhe com um sorriso a objectiva do "Formidável"


Não passaria muito tempo sem que o problema do mercado surgisse de novo. E Viterbo Correia dá a conhecer um concurso público de ideias, constituindo-se uma comissão que, em Outubro de l988, viria a debruçar-se sobre a remodelação total do mercado, bem como o da construção de um novo na área de S. José. No que diz respeito ao Mercado D. Pedro V, aberto o concurso respectivo, foi aprovado em 1989  pela Câmara o projecto da empresa ETAGE, de Matosinhos, com desenho do Arqº Luís Miranda, que previa a construção de vários pisos, dois dos quais subterrâneos, para estacionamento, tendo, para além do mercado propriamente dito, espaço para restaurante, sala de exposições, um posto de turismo e um auditório, sendo contemplado o alargamento da Rua Olímpio Nicolau Rui Fernandes. O processo iria prolongar-se durante vários anos, sendo, na presidência do Dr. Manuel Machado, reactivado pelo vereador Dr. Santos Cardoso. A conjuntura económica, a dificuldade de financiamento e o aparecimento das grandes superfícies comerciais contribuiriam para que, mais uma vez, o projecto de remodelação e a construção de um outro na área de S. José viessem a ser abandonados.

Mas o mercado continuava a ser uma preocupação constante. No seguimento da campanha "Um Violino no Mercado", a associação Pró-Urbe, em conjunto com uma Comissão de Comerciantes do Mercado, vinha a público, em Maio de 1997, alvitrar algumas propostas para revitalizar o espaço, quer no aspecto arquitectónico, quer no aspecto comercial, e mesmo através de actividades lúdicas e culturais, como local de vivência privilegiado da cidade.

Tornava-se, pois, imperiosa a necessidade da solução do problema. E, como resultado de estudos prévios, é apresentado, em 19 de Março de 1999, um plano de intervenção para a remodelação do Mercado D. Pedro V. Após uma introdução do presidente, Dr. Manuel Machado, o vereador Dr. Henrique Fernandes expôs o novo projecto, delineado pela Arqª Teresa Freitas e coordenado pelo Engº João Garcia. O empreendimento previa a demolição do muro da Rua Olímpio Nicolau Rui Fernandes, o recuo da superfície do mercado, estabelecimentos para o exterior, a construção de dois pisos e parques de estacionamentos subterrâneos, conservando-se apenas a estrutura existente do pavilhão do peixe.

Analisado e aprovado o projecto de execução, viria em Novembro desse ano a ser posto a concurso público, sendo adjudicada a construção à firma Soares da Costa. As obras, sob a supervisão do Engº António Constantino, iniciaram-se em Outubro de 2000, tendo sido o mercado, nessa data, transferido provisoriamente para o edifício da antiga Fábrica Triunfo, na Rua dos Oleiros.

Entretanto, em 8 de Junho de 1997, chegara ao fim dos seus dias uma testemunha que, ao longo de muitos anos, assistira às diversas transformações por que passara o mercado, à animação das vendedeiras, ao vivo colorido das multidões, aos pregões gritados, ao bulício do dia-a-dia renovado em sucessivas gerações. Era o frondoso ulmeiro que, junto ao portão, parecia saudar todos os que, ao longo de tantos anos, transpuseram os degraus da entrada. Atacado pela grafiose, mostraria que, de facto, as árvores morrem de pé. Os milhares de pardais que, ao cair da noite, num ensurdecedor chilrear procuravam o aconchego dos seus ramos, teriam que procurar outra guarida. Terminava, assim, o seu longo percurso protector, defendendo da chuva ou da inclemência do calor, companheiro mudo das conversas descontraídas dos frequentadores do quiosque que também abrigava, e que, durante muito tempo, poupara aos olhos dos passantes o espectáculo menos digno das barracas da encosta que os seus longos ramos escondiam.

E o velho ulmeiro não veria já, em Outubro de 2000, fecharem-se pela última vez as portas do mais que centenário mercado. Não veria também as potentes máquinas arrancarem as coberturas, derrubarem os muros, destruirem os alicerces, esventrarem as fundações. E não veria, igualmente, surgir o novo mercado que, concretizando o projecto municipal, transformou o espaço num funcional e moderno local de comércio, num enquadramento que valoriza a área e os edifícios circundantes, atractivo e de acordo com as actuais exigências, pronto a receber de novo os vendedores e o ruidoso e colorido formigueiro humano tão característico, ontem como hoje, do Mercado D. Pedro V.


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