Um pormenor do mercado. Ao fundo, a Torre de Santa Cruz, desaparecida em 1935
As
obras prosseguiam entretanto, sendo em 21 de Outubro de 1867 aprovado o
regulamento, data em que se decidiu dar ao novo empreendimento o nome de Mercado
D. Pedro V, homenageando assim o falecido monarca, que contava em Coimbra, que
diversas vezes visitara, grandes simpatias, como aliás em todo o país. No
mesmo dia, resolveu-se marcar para o dia 17 de Novembro a inauguração, e
"fazer festejos e convites". E, de facto, no dia 17 de Novembro de
1867, era, finalmente inaugurado o novo mercado que tanta polémica levantara.
Numa tradição que vem de longe, os últimos dias foram de intensa azáfama,
bem provada pelo facto de, no dia 6 de Dezembro, a Câmara ter autorizado que se
pagasse o vinho e a aguardente aos operários que tinham trabalhado durante a
noite, na véspera da inauguração.
Como
é natural, dadas as circunstâncias, o acontecimento não provocou grandes
entusiasmos na Imprensa, e O Conimbricense
de 19 de Novembro, dedicava-lhe apenas estas secas linhas:"Nova Praça - No
domingo, 17 do corrente, abriu-se pela primeira vez ao uso público, a nova praça
de D. Pedro V, no local da antiga Horta de Santa Cruz".
O
novo mercado seria contemplado com um candeeiro a gás, a que em breve se
juntariam mais quatro, mas as barracas tinham falta de licitantes, tanto mais
que constava ir a Câmara abrir um novo mercado de peixe, no Largo das Ameias,
assunto que provocaria um incidente, várias vezes repetido, entre o
vice-presidente e um dos vereadores.
O
magro orçamento com que fora contemplado, não permitira dotar a cidade com o
mercado necessário, e logo em 1872 temos notícias de reparações, sendo no
ano seguinte adjudicada a fundição de colunas de ferro para os alpendres
A
hipótese da mudança da venda de peixe para o Largo das Ameias, surge de novo
com acuidade naquele ano de 1872. Nesse sentido, a Associação Comercial faz à
Câmara uma representação, que é contrariada por um grande número de
conimbricenses, que em petição se manifestam contra o facto, argumentando,
entre outras razões, com a falta de condições do Largo e a dispersão que
provocaria, acrescentando ainda contra a localização, a circunstância de
estar iminente a construção do ramal de caminhos de ferro, cuja estação
terminal aí iria ser erigida.
No
ano de 1882, é apresentada na sessão de 23 de Agosto uma proposta do Barão de
Matosinhos, em que este solicita a concessão de um ascensor para acesso à
Alta, construído a expensas suas. O referido ascensor , que facilitaria o
acesso do público, ligaria o local junto à Fonte Nova até a Couraça dos Apóstolos.
A ideia de então não iria avante, mas veio a ser concretizada nos nossos dias,
quase 120 anos depois, com a construção do actual elevador.
As
beneficiações lá se iam fazendo, como acontece em Abril de 1883, em que se
adquirem lousas no Porto para os telhados das barracas, resolvendo a Câmara, em
6 de Fevereiro de 1884, mandar levantar plantas para o alargamento do mercado.
Se o alargamento não se efectivou, pelo menos em Fevereiro de 1885 eram
cobertos mais alguns lugares de venda e, chegados a Fevereiro de 1887,
depara-se-nos o pedido feito ao Engº Adolfo Loureiro para elaborar um plano
para a conclusão do mercado.
Os
acessos da Baixa são em 1888 facilitados com o alargamento, já atrás
referido, da então denominada Rua do Mercado, com a demolição das construções
que fechavam pelo lado norte o Claustro da Manga, e do chamado Arco do Correio,
que lhe ficava adossado, e que permitiria mostrar o Jardim, tal como hoje
acontece.
Até
ao fim do século XIX, foi o mercado alvo de pontuais reparações, cobertura de
barracas, ou instalação de esgotos, não passando de meras intenções a
construção de um novo mercado. Assim, encontramos na Imprensa da época ecos
dessa necessidade cada vez mais premente, continuando a dividirem-se as opiniões
entre o local onde se encontrava e a Sota.
Mais
concretamente, em 21 de Setembro de 1893, é apresentada em sessão da Câmara
Municipal, uma proposta para a construção e exploração de um novo mercado,
por João Evangelista da Silva Saturnino, de Lisboa. O local escolhido seria ao
fundo da Rua das Solas (hoje Adelino Veiga), seguindo pela Rua da Madalena
(actualmente, em parte, a Avenida Fernão de Magalhães). O projecto, que, mais
uma vez, provocou divergência de opiniões, não viria a concretizar-se.
Posteriormente,
em 4 de Janeiro de 1894, de novo é abordada, em reunião da Câmara, a questão,
ganhando mais consistência com a apresentação de um novo projecto, a
efectivar nos Largos da Sota e do Romal, em sessão de 24 de Dezembro de 1896.
No entanto, não iria avante, vindo a ser arquivado, até nova resolução, na
reunião de 17 de Fevereiro de 1898. No ano seguinte, mais precisamente em 12 de
Janeiro de 1899, viria a ser tomada a tão útil e necessária decisão de
mandar vedar o recinto do mercado.