A morte de Lady Di expõe hipocrisia da TV |
"É consenso popular que todo o morto se torna bom, mas no caso de personalidades a premissa é elevada à enésima potência. E Lady Di foi quase canonizada pela TV. Santa que se colocou a serviço dos oprimidos, Diana também foi a mártir sacrificada pela 'imprensa marrom', a 'sensacionalista'.
Leila Reis* O Estado de S. Paulo 06/09/1997
"É consenso popular que todo o morto se torna bom, mas no caso de personalidades a premissa é elevada à enésima potência. E Lady Di foi quase canonizada pela TV. Santa que se colocou a serviço dos oprimidos, Diana também foi a mártir sacrificada pela 'imprensa marrom', a 'sensacionalista'. É aí que aparece a hipocrisia do veículo. Os fotógrafos que perseguiam o Mercedes de Diana e Dodi al-Fayed se tornaram os piores vilões do mundo, a ponto de serem objeto de editoriais indignados. Os textos recriminaram aquela 'parte da imprensa' que passa dos limites para conseguir uma imagem, até matar sua galinha dos ovos de ouro. Tudo bem levantar a discussão sobre até onde um paparazzo deve ir para obter a foto sem ferir a ética. Mas fazer discurso moralista, ao mesmo tempo que exibe imagens feitas por esses profissionais - para ilustrar a invasão de privacidade que a princesa sofreu durante a vida -, é abusar do cinismo. Na verdade, todos os veículos -- TV, jornais e revistas -- querem (e pagam muito por) uma imagem exclusiva sobre qualquer coisa que se refira a celebridades como os membros da família real. São os 'furos' como aqueles que a TV mostrou até não poder mais - Diana nadando, malhando, velejando - que dão ibope; por isso estiveram em todos os canais. A sanha moralista só foi amenizada quando foi constatado que o motorista do carro estava alcoolizado e dirigia depressa demais. Mesmo assim, não houve exceção. Cada notícia sobre a punição dos fotógrafos era dada de maneira quase ufanista, para deixar claro que nem toda a imprensa é farinha do mesmo saco, especialmente aquela emissora. Seria bom que os profissionais do telejornalismo e dos programas jornalísticos revissem um pouco esse método de 'enterrar' personalidades. Afinal, um pouco de sobriedade nunca fez mal a ninguém." |
* Artigo respigado do saite do Observatório da Imprensa (Brasil)