Jornal PÚBLICO


A morte de Diana e os "bodes expiatórios"

Pedro Leão Neto (Matosinhos) 5/09/1997


A morte trágica da princesa Diana deixou à maior parte do público um sabor amargo na boca e um sentimento de revolta profundo. Revolta esta que necessitava de alguém a quem atribuir as culpas (um "bode expiatório"), pois incriminar apenas o sistema é algo demasiado abrangente, que nos atinge a todos e que não consegue aliviar a consciência de ninguém. Deste modo, culpar os "paparazzi" pelo que tinha acontecido foi o reflexo natural de quem se sente chocado pela morte de Diana e pelas circunstâncias em que esta ocorreu, mas náo aceita ser incluído no rol de pessoas que são responsáveis devido à feitura ou à compra dos chamados tablóides e de outro tipo de imprensa sensacionalista e vazia, mas extremamente lucrativa. Penso, no entanto, que tentar incriminar pessoas ou grupos de pessoas ("paparazzi", donos da imprensa, público, motorista, etc.) nao é a melhor forma de ajuizar sobre estas mortes trágicas. (...)

Mais pertinência terá discutir que fronteiras devem existir entre a vida privada de personalidades públicas e o interesse e direito de elas poderem constituir notícia. E, nessa reflexáo, náo esquecer que muitas dessas figuras públicas também usam a comunicacão social e que, portanto, náo respeitam elas próprias a sua vida privada! Náo esquecer também que náo é pela censura que se consegue erradicar fenómenos sociais como a pornografia, a droga, etc. Assim, sou de opiniáo que devem ser encontradas outras leis que permitam proteger melhor as personalidades públicas dos "paparazzi", mas sem nunca esquecer que essas têm melhores ou piores resultados conforme a capacidade, vontade e cultura da sociedade civil. Ou seja, as leis nunca poderão substituir-se à responsabilidade e ao civismo das pessoas para quem elas são dirigidas.

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