Don't cry for me, Inglaterra.

Mauro Rasi*           O Globo

Andrew Lloyd Webber pode escrever um novo musical: os ingleses já possuem a sua Evita - a "princesa dos pobres" em oposição à rainha dos ricos, que é Elizabeth II. Tia Hilda observa que é a primeira vez que a Inglaterra copia a Argentina - "É sempre o inverso..." A força de Diana está em ser oposição aos orgulhosos Hannover e tudo que representam. O editorial do "Financial Times" diz que Diana expôs, com seu comportamento, a mumificação da família real. Diana seria o MST; os Windsor, os latifundiários; Diana é o Partido Trabalhista embora qualquer semelhança com o nosso PT seja mera coincidência.

Está a um passo da santidade. Dizem que quando esteve no Brasil fez um milagre na Febem: dois menores infratores, que tinham sido baleados pela polícia e que estavam se recuperando na enfermaria, saltaram das camas, durante a sua visita, e pularam o muro, fugindo da monstruosa instituição. Estão assaltando de novo. Dizem que... a história das canonizações é como a História da Humanidade: é o maior disse-me-disse, ninguém sabe a verdade, nem quanto aos santos nem quanto aos homens. Entretanto dizem que ela chamava a sogra, a adorável Elizabeth II, de snake in the grass. (literalmente "serpente na grama"). Não se sabe como Elizabeth retribuía o elogio, na intimidade. Muito na intimidade, em se tratando de Elizabeth.

Enquanto isso, a mídia internacional torna a princesa íntima de todos even dos humildes. Minha empregada encantou-se ao descobrir que ela tinha sido babá. Isso a aproximou dos Spencer, são praticamente colegas. Compra tudo o que sai sobre ela. A ex-princesa de Galles conseguiu o que Lula não conseguiu: ser amado pelos pobres. Tia Norma, esta sim uma anaconda in the grass, acrescenta: "Vamos ver até quando..." Diana seria o único rival de respeito contra Fernando Henrique. Nem precisou usar o Sergio Motta, o destino se encarregou de tirá-la do seu caminho. O faxineiro aqui do prédio não se conforma, ia convidá-la pra tomar um cafezinho no seu muquifo mas agora só no céu...

A propósito: a mídia tem que repensar o seu calendário. Num curto espaço de tempo não dá pra absorver tantas atrações: acasalamento e fecundação da Xuxa, a nova morena do É o Tchan, Vera Fischer, Lady Di, a reestréia de "Pérola" em São Paulo... Ninguém nem mais fala na compra e venda dos votos da reeleição. Nessa altura, o pobre do pataxó já era. Ainda bem que quando o Papa chegar essa história já terá passado, senão pode ofuscar a visita de Sua Santidade.

Aliás, quem comprou os vestidos de Diana fez o negócio do século. Tá valendo mais que quadro de Van Gogh. Um milionário japonês propôs trocar o "Iris" por um tomara-que-caia. E ainda dá dois Matisse de lambuja. Alheia a tudo isso, Chrysthyyna'hh, que é o oposto de Diana, recebeu Enéas em seu, com perdão da palavra, programa. Foi uma página do apocalipse. A TV quase pifou. Minhas tias gritaram, os gatos eriçaram os pelos. Aliás, as novas TVs já possuem controle de qualidade, quando aparece uma coisa dessas elas automaticamente desligam. Dizem que Silvio Santos quer mexer outra vez no nome da apresentadora, acrescentar uns pontos, umas arroubas, pra dar um ar mais de Internet. Pronunciado (se é que isso é possível) produz um som meio de orgasmo, meio de e-mail (ou de panela de pressão). Ficará assim: Chry'.thy-yn.§a+hh@. Sua diarista, no entanto, continua chamando ela de dona Crica. Um ex-araponga, atualmente numerólogo do Prona, sugeriu que Enéas também mudasse seu nome para H.e,nééé.y.@S,. assim teria mais chances de alcançar a presidência. O barbudinho ficou de pensar. Mas é modernismo demais pra ele.

Chry's.thy-yn.§a+hh@ entrevistou por telefone uma manicure que disse que viu a Lady Di de costas, por dois segundos, mas que teve uma forte impressão: "Senti que era uma pessoa especial. E que teria uma trajetória curta. "Chry's.thy-yn.§a+hh@ concluiu que ela era tão especial que já teria cumprido sua trajetória.

Agora, o que intriga a todos é: o que é que Camila tem? Na Inglaterra já estão cantando a versão de "O que é que a baiana tem", intitulada "What has Camila got?" E respondem: "Got brinco de ouro, got; got saia rodada, got; got..." etc. etc. A verdade é que, tampax à parte, ela usa a experiência das mulheres maduras: joga dardos com ele, lêem antigos livros de sebo, trocam selos, deixa ele ganhar no críquete, no gamão... Mas já pensaram se isso tivesse ocorrido há 400 anos atrás? Numa tragédia de Shakespeare, Guilherme, o herdeiro do trono, que é a cara da mãe, ficaria traumatizado e assim que fosse ungido rei encerraria a amante do pai na Torre (posteriormente ela seria decapitada) e mandaria matar o pai, a avó, bisavó, o... seria aquele banho de sangue clássico tão ao gosto dos britânicos.

Hoje tudo é resolvido "civilizadamente". A pobre princesa Margareth (lembram?), quando começou a jogar água fora da bacia publicamente, foi enquadrada pela família e baixou a cabeça. Dizem que fica enchendo a cara quietinha no seu canto, lá no palácio. De vez em quando levam uns homens pra ela matar a fome. Mas tudo no sapatinho. Tia Hilda acha que a terminologia do pagado se aplica como luva aos hábitos sexuais dos Windsor. E mais, considera que eles têm muito de mineiro. "É tudo come quieto. Se pesquisarem bem vão descobrir que eles passaram por São João Del Rey..."Esse foi o pecado de Diana. Ela escancarou. E o que é pior, com que classe!

PS. Diana ocupará seu lugar no panteão dos que "morreram por amor", (o amor, como se sabe, mata mais do que todas as guerras) e, glória suprema, vai virar pôster, como Marylin, James Dean, Che Guevara... No Olimpo dos nossos sonhos todos convivem em harmonia, alheios às diferenças de origem ou ideológicas. A fantasia os une.

*Texto extraído do saite GLOBO ON (Brasil)

[REGRESSO AO ÍNDICE II DE ARTIGOS]