Mercado do "jet-set" dá milhões |
Ana Paula Azevedo/Telma Miguel* Expresso 30/08/1997
Marluce e Carlos Cruz há muito que estavam separados? A "Nova Gente" conta a novidade: eles agora "assumem a separação!". Uma vez publicamente separados, a "VIP" tratou de os entrevistar, nas respectivas casas e em férias. Cavaco Silva vai vender a sua "Mariani"? A "Nova" fotografou as "últimas férias do casal no 'inferno' da Oura". Já a "Caras" preferiu testemunhar o sossego de Mário Soares, que "passeou de barco, deu uns mergulhos e almoçou no Ancão". Se alguém não acreditava que Portugal tinha "gente bonita" que bastasse para alimentar mais do que uma ou duas revistas, enganou-se. As chamadas revistas de sociedade inundaram o mercado, com uma receita de sucesso: não interessa ser ou não verdadeiramente "jet-set", basta ser conhecido, ter "coisas bonitas" para mostrar ou profissões de sonho, e depois pegar num pormenor íntimo que escapou à concorrência, apresentando tudo com fotografias apelativas. DOIS MILHÕES EM PUBLICIDADE Pouco explorado em Portugal, este estilo de imprensa tornou-se um verdadeiro caso de sucesso neste Verão, com nada menos do que seis títulos a disputar o mercado, todos eles com êxito. Os resultados de vendas da "Nova Gente", "Caras", "VIP", "Nova", "Eles & Elas" e "O Q" mostram novos hábitos de consumo: quem comprava umas, passou a comprar também as outras. E tudo indica que o negócio está em expansão: num ano, a "Nova Gente" aumentou a sua média de vendas em 17 mil exemplares e a "Caras" em 20 mil. Em termos de investimento publicitário, os números também são elucidativos. Nos primeiros sete meses deste ano, a produção de mundos cor-de-rosa já rendeu quase dois milhões de contos de publicidade aos seis títulos. Segundo um relatório da Marktest, só a "Caras" arrecadou metade desse total de investimento publicitário, seguida da "Nova Gente", com cerca de 600 mil contos. A "Nova" e a "VIP", que surgiram nas bancas há menos de dois meses, já vão com 49 e 22 mil contos, respectivamente. Como termo de comparação, refira-se que os valores alcançados pela "Nova Gente" são semelhantes aos do jornal "A Bola" e que a publicidade da "Caras" é praticamente um terço da do EXPRESSO. O apetite pela vida dos famosos é satisfeito semanalmente a baixo preço: entre os l80 e os 220 escudos. Dentro do género há ainda distinções: enquanto a "Caras" e a "VIP" insistem nas reportagens da chamada alta sociedade, a "Nova" e a "Nova Gente" vivem de figuras mais populares, como políticos ou vedetas da música, da telenovela e do cinema, oferecendo ainda os roteiros de televisão. A linguagem e o tratamento também são mais populares nas duas últimas. BONITO, SEM OFENSA Todas as revistas têm um traço comum: não há escândalos e quem aparece tem a garantia de ser sempre muito bem tratado. "Apresentamos o lado bonito da vida, cheio de ilusão, com pessoas conhecidas e outras menos, mas que têm casas bonitas ou profissões interessantes", afirma Carlos Piçarra, director da "VIP". Neste mundo "tanto cabe o Marco Paulo como o primeiro-ministro", reconhece Clara Marques, directora da "Nova", admitindo que são "as figuras mais carismáticas ou as figuras que têm maior audiência na televisão que fazem as capas" e o sucesso de vendas. Maria da Luz Bragança, directora e proprietária da "Eles & Elas" (existente no mercado há já 16 anos), sustenta, porém, que esta proliferação de revistas de "comunicação do social" é uma insensatez. E interroga-se se não irá acontecer o mesmo que às revistas femininas, que depois do sucesso inicial sofreram uma baixa de vendas. "Acho que é cedo para cantar vitória porque o público ainda está a ver e a escolher os vários produtos", afirma por seu turno Rocha Vieira, director-geral do grupo Edipresse, proprietário da "TV Mais", uma revista de outro segmento de mercado, mas que também vive das notícias das vedetas. A própria "TV Mais" é prova da expansão do mercado: este ano, as vendas aumentaram dez por cento, excedendo as previsões, que eram de cinco por cento. Estas perspectivas optimistas levaram já o grupo Abril/ Controljornal a decidir que dois produtos recentemente lançados, a "Caras Viagens" e a "Caras Decoração", passem de bimensais a mensais, a partir de Setembro. |
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