A bolsa de valores dos casos do coração

Por uma mão-cheia de milhões, as celebridades vendem tudo, até casamentos com divórcio incluído. Há quem viva apenas deste expediente

Jorge Alves Barata*           Diário de Notícias 27/09/1997

São actrizes, modelos, cantantes, playboys, toureiros, ou meros filhos de gente famosa. Pertencem à lista de colunáveis com lugar cativo na Imprensa cor-de-rosa e na televisão. Todos cobram cachet para abrir a sua intimidade. Uns reforçam o ordenado, outros pagam férias exóticas ou a mudança de casa. Alguns vivem exclusivamente deste negócio.

Os momentos altos ocorrem quando se casam, descasam, têm filhos, ou cometem adultério, o tema mais valorizado. Há uns meses o jornalista Romualdo Izquierdo publicava, no diário El Mundo, um trabalho em que dava conta das oscilações da cotação da bolsa das celebridades. O artigo, intitulado «Para eles, vale tudo», citava o caso de uma jovem, Carmen Morales de seu nome, cujo principal atributo é ser filha da cantora e actriz Rocío Dúrcal y Junior. Ora a cotação da señorita estava em baixa, já que ninguém lhe pagava outra vez os 20 milhões de pesetas que embolsara com a venda do exclusivo da sua gravidez e parto como mãe solteira. A jovem poderá atingir de novo essa marca em breve, quando casar com o pai da criança, «coisa mais que apalavrada», dizem os fotógrafos, dando a entender tratar-se de um subterfúgio para arranjar umas massas. Mais engraçada é a história de Daniel Ducruet, que terá recebido 20 milhões de pesetas para contar tudo sobre a traição à princesa Stéphanie. O ex-guardaespaldas, decerto a tentar evitar uma falência precoce, veio a Espanha e, por quatro milhões de pesetas, revelou que «a culpa foi do ecstasy». A falta da maldita cocaína. Outra personagem que tem andado nas bocas de Espanha é a modelo Mar Flores, que, do alto dos seus lindíssimos e morenos 28 anos, tem coleccionado uma mão-cheia de escândalos. Primeiro, foi uma badalada relação com o conhecido Fernando Fernández-Tapias. Este, como num raid-relâmpago, foi substituído pelo ex-companheiro de Ana Obregón, Alessandro Lequio, considerado pelos fotógrafos «um verdadeiro profissional». A união deu um escândalo tremendo, que, segundo Izquierdo, «encheu» de dinheiro os protagonistas: o cachet de Mar passou, num ápice, «de 400 mil para mais de um milhão de pesetas por desfile». Posteriormente, o novo companheiro da modelo, um dos melhores partidos de Espanha, Cayetano Martínez de Irujo, admitiu a possibilidade de casar com ela. Na semana passada, num drible fantástico, entrou em cena o futebolista Raúl, do Real Madrid (elas não querem nada com o Atlético). No programa de TV «Tómbola», insinuam que foi penalty. E é então que o tal senhor da camisa cor-de-rosa, que percebe muito disto, chama a atenção para o facto de os três se mostrarem juntinhos na bancada da plaza de toros...

Izquierdo aflora ainda duas histórias que nos havia contado B. S., uma tarde, sob o sol violento da Estremadura espanhola. Uma, a da filha de Julio Iglesias e de Isabel Preysler, que por 60 milhões de pesetas negociou o exclusivo do noivado, copo-de-água e divórcio com Ricardo Bofill. A outra: Carmen Martínez Bordiu pediu ao director da Hola! Eduardo Sánchez Junco, 40 milhões de pesetas pelo exclusivo do seu casamento com Roberto Federicci. Só que a resposta foi negativa e, ao que parece, o copo de-água ficou hipotecado... «Vão-se os anéis, ficam os dedos», diz o ditado. Mas neste mundo do faz de conta, os dedos sem os anéis ganham artrose muito depressa. Antes isso que um ataque de corazón.

* Artigo inserido na reportagem "OS PAPARAZZI PARA LÁ DAS CÂMARAS"

* Texto publicado pelo jornal Diário de Notícias

 
 

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