No mundo do faz de conta |
Victor Cunha Rego* Diário de Notícias 04/09/1997
Helmut Kohl e Tony Blair já estão a tratar de convencer os respectivos governos e parlamentos a legislar no sentido de que seja protegida a privacidade das figuras públicas. Por sinal, ambos são figuras públicas. A morte da «princesa do povo» ou «princesa santa» é o pretexto ideal para o faz de conta dos dias actuais. Faz de conta que a Imprensa generalista é tão poderosa quanto a do futebol ou a do jet set e subúrbios. Faz de conta que a Balada ae Nova lorque é violenta e a esmagadora maioria dos desenhos animados não o é. Faz de conta que sem as democracias que elegem, e elegerão cada vez mais, os medíocres e os demagogos do Estado-Espectáculo não há liberdade. Faz de conta que o cristianismo venceu nos países do Leste europeu ou que, no outro lado, a cultura laica resolve os problemas de organizac,ão dos princípios éticos. Faz de conta que é possível o desenvolvimento económico sem sindicatos. Faz de conta que a pedofilia será devidamente combatida. Faz de conta que a Mafia desfaleceu e não está já instalada nos circuitos financeiros sofisticados. Faz de conta que é moralmente aceitável que toneladas de pêra possam ser deitadas no lixo. Faz de conta que seriam os métodos indiciários na fiscalidade a criar a corrupção no País. Faz de conta que o arrendamento é justo em Portugal. Faz de conta que este capitalismo se aguentava sem o dinheiro da droga. Faz de conta que soubémos o que foi votado na maratona da revisão constitucional. E que Lady Di é a Evita do nosso tempo. |
* Texto publicado pelo jornal Diário de Notícias