Notas |
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Nota 1. 'Commercio da Louzã' nº 58, 31 de Agosto de 1910, pág. 2. O jornal 'Commercio da Louzã' iniciou a sua publicação em 4 de Abril de 1909. Com periodicidade semanal, veio a ser suspenso em 1915, ia então no número 206. Foi substituído pelo jornal 'O Futuro', órgão do Partido Republicano Português. Sobre o 'Commercio da Louzã', ver, para mais detalhes, 'Commercio da Louzã - 500 dias até à República'. ALVES, Dinis Manuel. Edições EPL, Lousã,1996. Nota 2. Estes diálogos apareciam geralmente numa rubrica intitulada 'Á LAREIRA - Serões do Povo'. Não havia título específico para cada um dos diálogos, apenas a numeração em romano. Vinham assinados por 'Paulino', a maior parte, ou 'Paulino Júnior'. Nalguns casos, a rubrica surgia com o título 'Beliscando'. Nota 3. Já depois de implantada a República, o tema da 'galopinagem' continuava bem vivo no verbo do sr. António. Só que agora, para fazer um contraponto, ou melhor dito, vaticinar um contraponto com o mercadejar de votos do regime anterior. Atente-se no diálogo publicado a 20 de Maio de 1911, no nº 79 do 'Commercio da Louzã': 'Temo las á porta, não é verdade, sr. Antoninho, disse logo o João Russo ainda o sr. Antonio não tinha cumprimentado a numerosa assembleia que nessa noite se tinha juntado em casa do sr. João da Rosa para ouvirem o sr. Antoninho que, diziam elles, fallava que nem uma cartilha. -- O quê, tio João? as eleições? -- Sim, senhor, as eleições. -- Segundo tenho ouvido, disse o Francisco do Casal, este anno não ha bacalhau com batatas nem sequer o tostãozito. -- Nem pedem votos, disse do seu canto o Manuel da Eira. -- Está visto que nem uma coisa nem outra, respondeu o sr. Antonio. Os republicanos, meus amigos, nunca pediram nem pagaram votos. O voto representa a consciencia, a vontade livre de cada um. E com a consciencia, com a vontade de cada um não se negoceia. São coisas muito serias, e não é nenhum negocio de sardinhas. -- Mas então porque é que dantes os monarchicos os pediam e os pagavam, perguntou o Manuel do Fundo? -- Pagavam?! Os monarchicos? continuou o sr. Antonio. Como vós estaes enganados. Quem os pagavam eram vocemecês. Era o Povo. -- Hom'essa agora! disse muito admirado o Joaquim da Peneda. -- Sim, senhores, pois então. Julgavam que eram esses que vinham pedir-vos o voto que puxavam pelos cordões á bolsa? -- Elles não digo, voltou o Joaquim da Peneda, mas o governo. -- Ah! ah! ah! E quem dava o dinheiro para o governo mandar distribuir para as eleições? Não era tirado dos cofres do Estado. E quem entrava com esse dinheiro? Eramos nós todos, pagando as contribuições. Pois como canta. -- Olha que pouca vergonha, exclamou o Manuel do Fundo. Mas agora pensando bem tambem vejo que os taes amigos não estavam a puxar pela bolsa. -- Isso puxavam elles. Mas voltando ao principio da nossa conversa: como lhes disse, e já dantes lhes o havia repetido por varias vezes, o voto não é coisa que se venda. Elles vinham pedir votos porque precisavam que fossem a deputados não aquelles individuos que o Povo quisesse escolher, mas aquelles que lá no alto haviam escolhido. Precisavam lá de gente que desse por tudo quanto o governo quisesse fazer, que abafasse todos os escandalos e roubalheiras que faziam. Por isso elles andavam ahi de porta em porta, como um pedinte, a prometter-nos mundos e fundos; a dar-nos abraços e apertos de mão, como a fazer nos a boquinha doce, para apanharem o vosso voto. -- E depois de passadas as eleições já fingiam que nos não conheciam, respondeu o Domingos Moleiro. -- Está claro. Depois da isca comida... -- Pois isso era certo e mais que certo, respondeu o Antão da Quinta. -- Eu, o que entendo cá na minha fraca ideia, principiou na sua voz forte e pausada, o Antonio Serralheiro, é que se os deputados vão lá ás cortes para representar o Povo, e portanto tratar dos nossos interesses, devem ser escolhidos pelo povo; devem ser nossos conhecidos e conhecerem a nossa terra. -- Tem vocemecê muita razão, amigo Antonio, continuou o sr. Antonio. Já que os deputados são representantes do Povo, devem unica e simplesmente por elle ser escolhidos. É como quem passa uma procuração. Ora parece-me que ninguem vae passar uma procuração a individuo que não conheça e que não saiba primeiro se é ou não pessoa capaz. -- Isso é claro, respondeu ainda o Antonio Serralheiro. -- Pois é o que se dá com os deputados. Temos obrigação, para bem da nossa Patria, que devemos amar até ao sacrificio, para bem da nossa terra, para bem dos nossos interesses, para bem do futuro dos nossos filhos, temos obrigação, repito, de irmos votar; mas votar livremente, com consciencia. Nenhum eleitor deve ficar em casa no dia das eleições, que são no dia 28 d'este mez. Este anno, não sei se sabem, são eleitores; isto é, teem voto, todos os individuos que sejam chefes de familia, e ainda aquelles, que não sendo chefes de familia, saibam ler e escrever. -- Então eu tambem tenho voto, perguntou admirado o Manuel do Fundo?! -- Está visto que sim, respondeu-lhe o sr. Antonio. -- Mas eu não tenho onde cahir morto e não pago décima! -- Mas é que agora no recenseamento não entra só quem paga décima. Tanto tem direito ao voto o rico como o pobre. É, como já lhe disse. É eleitor todo o cidadão de maior edade que seja chefe de familia, ou o que não sendo saiba ler e escrever. -- Ah, isso sim. E é bem entendido, cá na minha opinião, disse o Joaquim Coxo. Pois isso de só ter voto quem tinha bens não era bem entendido. -- Isso, proseguiu o sr. Antonio, existia no tempo da monarchia e representava uma excepção. Na Republica não ha excepções; são todos eguaes. A Republica é um governo do Povo para o Povo, por consequencia o Povo tem de ser todo ouvido, desde que seja honrado, quer seja pobre, quer tenha alguma coisa. Quem escolhe o chefe da nação é o Povo com o seu voto. Por isso, meus amigos, nenhum eleitor, torno-lhe a repetir, deve deixar de ir á urna. Indo, vae cumprir um dos seus mais importantes deveres. Ide vos e dizei aos vossos conhecidos e amigos o que aqui se disse, para que elles por sua vez saibam cumprir o seu dever, e não se esqueçam vocemeçes do vosso'. |