Os padres... não me venha falar n'essa corja |
Capítulo IX Primeira Página
Ainda se lembram do diálogo de ontem? Era todo a favor do Estado Novo, todo a favor de Salazar. Hoje trouxe-vos dois mais pequenos, e tirados de um jornal ligado à igreja. É 'O Amigo do Povo', que ainda se publica, aliás. O primeiro texto é de 1916. Aqui o tema são os padres, que o interlocutor que faz de povo vergasta, e o seu parceiro defende. Por certo que a escolha deste tema não devia andar desligada do clima que ao tempo se vivia, de um vigoroso fervor anticlerical. Ora oiçam: 'CONVERSANDO... -- Os padres... não me venha falar n'essa corja. -- Porque os chama assim? -- Porque são todos uns patifes. -- Não é razão; pois diga-me que provas tem da sua patifaria? -- Muitas. -- Mas diga algumas. -- São uns hypocritas. -- Estamos na mesma. É simplesmente uma nova accusação que resta provar, como resta provar que são uns patifes e que são uma corja. -- Ora essa, mas tem alguma duvida a esse respeito? Eu, nenhuma. -- Sim, tenho duvidas e ao sr. peço que m'as tire. -- Ah! ah! ah! que ingénuo! Pois quem ignora que os padres não praticam o que ensinam? Ora, se não o praticam, é porque téem como falso o que ao povo ensinam como verdadeiro. Logo são hypocritas... -- Pelo que vejo, tem o sr. tratado intimamente com todos os padres... -- Com todos não. -- Ao menos com muitos... -- Felizmente nunca tive relações senão com um, que era lá o abbade da minha freguezia.
A gravura incluída nesta página (tinta da china, aguarela e guache sobre papel), representando o Senhor Antoninho, é da autoria de UCAfonso, e foi concebida especialmente para ilustração do livro e do saite 'No Fastifud da Bernadete' |