Lá isso de ditador, o meu amigo não sabia bem o que era

Capítulo VIII            Página 7

A.-- Disseram-me que havia católicos que não gostavam de Salazar. É verdade, Senhor Professor?

P.-- Não sei se há ou não católicos que não gostem de Salazar. O que te digo é que, se os há, são bem mal agradecidos. Salazar é um bom católico; sempre o foi. Todos sabem que, antes de ir para a Universidade, frequentou o Seminário de Viseu e lá andou alguns anos. Isso lhe arreigou mais a sua fé, e lhe deu forças para pela vida fora -- como estudante universitário, como Professor de Coimbra ou como Governante -- nunca deixar de proceder como bom católico. Antes da situação actual os padres eram perseguidos e insultados nas ruas; os conventos foram encerrados e os frades e as freiras expulsos; muitas igrejas foram transformadas em cavalariças, as imagens dos Santos profanadas e os bens da Igreja roubados. Foi Salazar que devolveu esses bens à Igreja, abriu os conventos, prestigiou os Padres, e reparou os templos. Porque é que alguns católicos não haviam de gostar de Salazar?

A.-- Isso seria um feio pecado, Senhor Professor, seria uma ingratidão muito grande.

P.-- Os comunistas sim, esses é que não gostam de Salazar, mas também não gostam mais dos católicos; e então aos Padres... se pudessem matavam-nos todos. O que vale é que nós estamos com Salazar e contra o comunismo; defendendo o nacionalismo português, defendemos a religião católica, defendemos as nossas Igrejas, e defendemos os nossos Padres.

A.-- É assim mesmo, Senhor Professor. São coisas que chegam até ao fundo do meu coração de português e de nacionalista. Diga-me outra coisa: Quando se aproximam as eleições, a oposição -- eu não sei bem o que é isto de oposição -- diz nos jornais que em Portugal não há liberdade; mas todos nós temos a liberdade que precisamos...

P-- Eu explico. Realmente no nosso país todos têm a liberdade necessária; no entanto, nós os nacionalistas, não reconhecemos liberdade contra a Nação, contra o bem comum, contra a Família e contra a moral. É este princípio que exige aos governantes que esqueçam os seus interesses e trabalhem para a Nação. O Nacionalismo português sobrepõe ao interesse de cada um de nós, o interesse geral, o interesse de todos.

A.-- Bem sei; essa oposição -- que penso que sejam os que restam dos antigos partidos e os comunistas -- queriam liberdade para provocar a desordem que estavam habituados.

P.-- Isso mesmo; e o Governo tem de garantir a ordem, porque sem ordem nenhuma sociedade pode manter-se e prosperar. É como numa família: não haveria paz se todos quisessem mandar, em vez de obedecerem ao Pai que é o Chefe.

A.-- Está bem, foi isso mesmo que ouvi nas reuniões dos domingos. Numa delas falei em particular com o Senhor Governador e disse-lhe que andava preocupado com a educação dos meus filhos, pois tenho lá um que vai fazer exame da 4ª classe este ano, e quer aprender mais. O Senhor Professor tem-no lá na escola e sabe que o rapaz não é tolo.

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