Lá isso de ditador, o meu amigo não sabia bem o que era |
Capítulo VIII Página 5
A.-- Mas então é o Estado que paga tudo ou não é? P.-- O que paga o Estado para essas obras varia com a riqueza dos Concelhos ou das Freguesias. Aos Concelhos ou às Freguesias mais ricas dá menos dinheiro, e aos mais pobres dá quase tudo; o que faltar dão-nos as Câmaras Municipais ou as Juntas de Freguesia dos seus rendimentos. A.-- Mas eu sei que numa aldeia vizinha da minha há Comissões de Melhoramentos que também fazem obras dessas. P.-- É certo. Em certas freguesias há essas Comissões de Melhoramentos formadas por pessoas de boa vontade que se cotizam, isto é, que dão dinheiro para obras; esse dinheiro é mais ou menos conforme os sócios são mais ou menos numerosos, ou mais ou menos ricos. É com este dinheiro que estas Comissões ajudam as Câmaras ou as Juntas a dar a sua parte nas obras. A.-- Então as Comissões de Melhoramentos não fazem as obras? P.-- Em geral quem faz as obras são as Câmaras Municipais ou as Juntas de Freguesia, e assim deve ser; as Comissões de Melhoramentos ajudam-nas, e podem até serem seus delegados nessa tarefa. A.-- Mas se as Comissões de Melhoramentos quisessem fazer obras sòzinhas? P.-- Nesse caso só podem fazê-las desde que sigam as indicações que lhe forem dadas pelas pessoas que o Estado ou as Câmaras têm para encaminhar as obras; doutro modo arriscavamo-nos a não fazer as coisas direitas. Mas não há vantagem nenhuma nisso; a união, como sabes, é que faz a força. A.-- As Comissões de Melhoramentos além de ajudarem com dinheiro também o podem fazer com o trabalho dos seus sócios. P.-- Bem sei, mas esse trabalho também é dinheiro. Supõe tu que uma obra custava 100 contos, e que o Estado comparticipava, isto é, dava só 80; a Câmara ou a Junta tinham de arranjar 20. Mas tanto faz darem o dinheiro como darem trabalho que valha esses 20 contos; ou mesmo darem algum dinheiro e o resto em trabalho. A.-- É assim que o Senhor Governador Civil faz connosco. Nós dizemos-lhe que queremos fazer umas calçadas, e ele dá-nos um tanto; e nós com esse dinheiro e o nosso trabalho fazemos a obra. O Senhor Governador ajuda-nos muito. P.-- Bem sei; o Senhor Governador Civil ajuda as populações das nossas vilas e aldeias a reparar as suas calçadas, a arranjar os caminhos rurais, a abrir mesmo pequenos caminhos e outras obras pouco importantes que o Estado não comparticipa por serem muito pequenas. A.-- Mas olhe que para nós essas obras valem muito, e ficamos muito contentes com elas. P.-- Bem sei. Mas não esqueças que o Senhor Governador tudo quanto faz, fá-lo em nome do Governo, que representa neste distrito. É o Governo sózinho que faz as grandes obras : as pontes, as grandes estradas nacionais, os caminhos de ferro, as barragens com vista à produção de electricidade, os grandes canais para regar os campos, os portos de mar, etc. Comparticipa todas as obras das Câmaras e das Juntas, e o Senhor Governador, em nome do Governo e ajudado por ele, ajuda, por sua vez, o povo a fazer as pequenas obras mais do seu agrado. O Governo faz tudo para bem do povo e não quer autoridade senão na medida em que a precisa para realizar o bem do povo. A.-- Compreendo sim Senhor. Para o Governo português, como disse o nosso Salazar, não há umas classes mais protegidas do que as outras; o povo somos nós todos, embora os mais necessitados devam ser mais protegidos e acarinhados. |