Lá isso de ditador, o meu amigo não sabia bem o que era |
Capítulo VIII Página 3
A.-- Um dia destes apareceu lá na terra um amigo que esteve algum tempo a trabalhar em França. Contou-nos que ao conversar com uns franceses seus companheiros de trabalho, lhe disseram que Salazar era um ditador, o Governo português governava pela força, e os portugueses só não se revoltavam porque andavam sempre com medo da polícia, que os espionava e espancava as pessoas que lhe pareciam suspeitas. Acrescentou ainda que em Portugal não havia liberdade; só quando se implantasse o comunismo, os trabalhadores podiam ser alguém e fazer o que lhes apetecesse, como na Rússia. P.-- E o que é que o teu amigo respondeu ? A.-- Respondeu que isso era uma grandessíssima mentira; por isso, não entendia como se inventavam estas coisas. Acrescentou que em Portugal todos andavam à vontade por toda a parte, e para ver um polícia era preciso ir a Coimbra e procurá-lo na esquadra. Disse também que Salazar é o nosso Chefe porque tem mandado bem; fez do nosso Portugal uma grande Nação, nós todos lhe devemos muito, e queremos que Deus lhe dê saúde e vida para continuar à frente do nosso Governo. Lá isso de ditador, o meu amigo não sabia bem o que era, porque cá não há disso'...
-- Ai o filho duma grande... então cá não havia ditador, hein? Então e a PIDE, foi criada para fazer cócegas aos da oposição! Eu por mim já nem quero ouvir mais nada, que me está a dar uns nervos! O que eu passei por causa dos bufos. Ou calávamos bem calados, e íamos com as bandeirinhas ao cabeça de abóbora, ou então éramos logo comunistas. Que raça de gente! -- Calma, João da Neta, já vamos com muitos anos de democracia, e não estamos aqui para nos enervar. A minha intenção foi permitir-vos um termo de comparação, nada mais. Deixem-me continuar, e habituem-se a ler e a ouvir também coisas de que não gostem. O mundo fascina pela diversidade, e não por tocarem todos o mesmo instrumento...
'O que sabia -- e isso disse aos franceses -- é que Salazar além de ser o nosso Chefe é o nosso maior Amigo. Esses franceses eram comunistas; e como eu aprendi nas reuniões alguma coisa sobre o comunismo, já pude afirmar ao meu amigo que isso de comunismo é uma peste. Na Rússia não há liberdade de qualidade nenhuma; lá é que há polícia 'da boa' porque nem a gente pode estar sossegado em casa, onde é espiado a todas as horas. Os trabalhadores russos não mandam; quem manda são esses malvados políticos que se servem dos trabalhadores como de escravos. Nós em Portugal somos protegidos. Temos as nossas horas para trabalhar e para descansar; e até somos livres de trabalhar ou não. P.-- Sim senhor, é assim mesmo; vejo que entendeste bem. Tu pensas que o comunismo poderia implantar-se em Portugal? A.-- Não Senhor. Essas coisas só se podem fazer na medida em que nós, o povo, gostemos delas e as apoiemos; e nós não gostamos do comunismo e não acreditamos nas lérias que os comunistas dizem para nos convencerem; portanto nunca tal coisa poderia vir para cá. P.-- Mas se houvesse uma revolução para implantar o comunismo como houve a revolução do '28 de Maio' que nos trouxe o Estado Novo? A.-- Nem assim, porque pela força podem-se fazer revoluções, mas não se pode governar bem sem o auxílio do povo; e o povo, como já disse, não gosta do comunismo. P.-- Estamos de acordo. Voltemos agora a falar do Nacionalismo português. |