Lá isso de ditador, o meu amigo não sabia bem o que era |
Capítulo VIII Página 2
A.-- Porque é que o General Gomes da Costa fez a revolução do 28 de Maio? P.-- Porque o País estava a ser muito mal governado pelos políticos de então. Antes de 28 de Maio de 1926, Portugal era governado -- ou melhor desgovernado -- pelos partidos políticos. Havia muitos e guerreavam-se uns aos outros porque todos queriam mandar. A.-- Então esses partidos é que eram o Governo ? P.-- O Governo era formado pelos partidos na ocasião mais fortes, e por isso se guerreavam; cada um deles queria formar o Governo com ministros da sua confiança, ministros que depois fariam o que o seu partido quizesse. A.-- Mas então que direito tinham os partidos de governar o País? P.-- São contos largos. No entanto sempre te direi que esses homens se sentiam donos do Poder, donos do mando; explicavam isso dizendo que representavam o povo, e portanto mandavam em nome do povo. A.-- Mas eles representavam os seus partidos ou representavam o povo? P.-- Em teoria representavam o povo. Como sabes, para eleger os deputados fazem-se eleições. Para isso formam-se Assembleias de voto em todas as Freguesias, e é lá que o povo vai deixar o seu voto, metendo cada votante uma lista na urna. A lista é um papel que tem escrito os nomes dos deputados, isto é, o nome dos homens que o povo quer que o defendam no Parlamento ou Câmara dos Deputados. A.-- Bem sei, porque eu já tenho votado algumas vezes na eleição dos nossos deputados. E se nós temos deputados, temos um Parlamento. P.-- Com certeza; chama-se Assembleia Nacional. É na Assembleia Nacional que se reunem os deputados para discutirem as leis e defenderem os interesses do povo que os elegeu. A.-- Antigamente, antes do '28 de Maio', não havia uma Assembleia Nacional ? P.-- Sim, havia. Chamava-se então Câmara dos Deputados. Nessa Câmara dos Deputados passavam-se cenas vergonhosas; não havia ordem. Os Deputados dos diversos partidos insultavam-se e insultavam o Governo, partiam as carteiras onde se sentavam, assobiavam, e até lutavam lá dentro como nas fitas americanas de pancada. As eleições para Deputados eram uma farsa; o povo votava sem saber o que fazia, e empregavam-se as manhas mais esquisitas para que este ou aquele partido ganhasse as eleições. A.-- Agora não há partidos ? P.-- Não, não há. A experiência que tivemos durante bastantes anos mostrou-nos que os partidos se preocupavam unicamente com as lutas políticas; em vez de estudarem a melhor forma de servir o País, estudavam os melhores processos de atacar os outros partidos, seus rivais, para lhes tirarem o mando; e quando um deles tinha nas mãos esse mando, isto é, se os seus homens é que formavam o Governo, logo era atacado por todos os outros que desejavam derrubar esse Governo para eles próprios formarem um novo. Os políticos gastavam todas as suas forças nessas lutas movidas pelas paixões e pela ambição, descuidando os problemas nacionais e não tratando de melhorar a vida dos portugueses. A.-- Mas eu pertenço à União Nacional; então a União Nacional não é o partido dos nacionalistas? P.-- Não, não é. A União Nacional não é um partido político. É um instrumento político que se oferece a todos os portugueses de boa vontade para servir a Nação; e não é um partido porque não pode abandonar o que é nacional e patriótico, isto é, o que é para bem da nossa Pátria, para se lançar em lutas partidárias; isso seria criminoso. Noutra conversa podemos falar mais demoradamente sobre a União Nacional; por agora ficarás com estas primeiras ideias. |