Lá isso de ditador, o meu amigo não sabia bem o que era

Capítulo VIII           Primeira Página

-- Ó Dete, minha filha, traz a dose habitual, mas põe piripiri a valer nas moelas, se queres fazer negócio com a cerveja. O Ti Nardo bem que não se safava se ficasse na dele de só pôr aqui hamburgues e batata frita, e aqueles molhos de mostarda e quéchupe. Vejam lá que os estrangeiros que arranjou para sócios não lhe deixavam pôr piripiri na carne picada! O que os amaricanos comem é o que nós temos de comer, também, e tudo igualzinho. Se fossem à fava, raio de raça esta. Andam malucos com o tabaco, agora ninguém pode fumar. Vais ver que amanhã ou passado começam a pegar com os cheiros. Só têm uma coisa boa, que é o cinema, disso gosto. Obrigado, Detinha.

-- Já acabaste a lenga lenga, Vanderlei? Preparar os ouvidos, que aí vai texto! O título é 'Nacionalismo Português', mas fala-se de mil e uma coisas...


'ASSISTENTE -- Bom dia, Senhor Professor; então também esteve na reunião que se fez no domingo nos nossos Paços do Concelho ?

PROFESSOR -- Também, sim senhor. Como sabes, embora essa reunião se destinasse principalmente aos membros das Juntas de Freguesia e Regedores, podiam assistir a ela todas as pessoas que desejassem aumentar os seus conhecimentos sobre os assuntos que lá se explicaram. Portanto, eu, apesar de não pertencer este ano à Junta de Freguesia, também lá estive.

A.-- Gostou, Senhor Professor?

P.-- Gostei muito. Encontrei lá amigos que já não via há muito tempo e, principalmente, pude aclarar melhor certos pontos que lá foram expostos e discutidos. E tu, como achaste a reunião?

A.-- Também gostei muito. O Senhor Governador Civil e as pessoas que o acompanhavam trataram-nos com toda a consideração e atenderam-nos sempre com grande vontade. Nós podíamos perguntar o que quiséssemos que logo, cheios de paciência, nos explicavam tudo por miudinho.

P.-- Então também perguntaste alguma coisa ?

A.-- No princípio ainda estive calado porque tinha acanhamento; mas, depois, quando alguns começaram a perguntar várias coisas tomei ânimo e também fiz o mesmo. Logo no princípio da reunião, um Senhor que veio com o Senhor Governador Civil esteve a falar durante alguns minutos. Explicou-nos muitas coisas, devagar e muito clarinho, para que a gente entendesse bem. Falou de nacionalismo, dizendo que todos nós devíamos ser nacionalistas; eu já sabia que ser nacionalista é ser amigo da Nação, e portanto que todos devíamos trabalhar para a tornar cada vez maior e mais rica.

P.-- Exactamente. Para nos lembrarmos sempre disso os documentos oficiais terminam com as palavras -- A Bem da Nação; e Salazar disse que os bons nacionalistas deveriam fazer 'Tudo pela Nação, nada contra a Nação'.

A. -- Se o Governo depois do 28 de Maio mandou escrever isso no final dos papéis oficiais, é porque antes não se trabalhava muito para a Nação.

P. -- Realmente esta política nacionalista só começou no dia 28 de Maio de 1926, quando o General Gomes da Costa deu o grito de revolta em Braga e logo teve pelo seu lado todo o nosso exército. Essa revolução pacífica -- visto que não houve quaisquer mortes -- começada pelo General Gomes da Costa, marcou o início duma época de muito trabalho, mas também de muita prosperidade para a nossa Pátria.

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