O Dr. Pedro Camaleão candidata-se à Câmara

Capítulo IV           Primeira Página

-- O professor já sabe que o Dr. Pedro Camaleão se vai candidatar à Câmara pelo PTM?

-- Sai ao pai, todo monarca.

-- Mas não devia poder, então se ele é funcionário público, ainda por cima com tão altas funções, e vai ser candidato por um partido da monarquia quando nos obriga a comprar papel selado para os requerimentos com o selo da República Portuguesa? Tá boa, essa. Vão ver que ainda muda o selo lá na repartição.

-- Ai meninos, que ideias mais malucas vão por essas cabeças! Então se o regime democrático aceita todos os partidos, menos os racistas, nazis e outros que defendam ideias criminosas, se a democracia legalizou o Partido da Tradição Monárquica, porque é que o doutor não pode ser candidato por esse partido?

-- Porque não tem jeito nenhum. Devia ir pedir o ordenado ao rei e não ao primeiro-ministro, então...

-- É curioso como os assuntos do dia permitem quase sempre ilustrações de antanho. Nem a propósito, trago aqui o 'Commercio da Louzã' de 7 de Março de 1910, ia o jornal no seu número 39, quando Paulino abordou uma questão parecida. Ora oiçam:

'Não era hoje minha tenção, principiou o sr. Antonio, fallar-vos de coisas que de longe se quer, se relacionassem com a politica, mas sim occupar-me doutro assumpto mais limpo. Ouvi, porem, depois uma conversa, que fez com que aproveite a occasião para lhes fazer umas certas considerações. A conversa não era para mim, nem o momento se proporcionou a que eu pudesse metter o bedelho, como bastante me apeteceu. Era o caso de certo empregado publico estar a dizer para outro sujeito que apezar de professar certas ideias liberaes não podia contudo declara-lo abertamente devido a ser um empregado publico, em empregado do governo, dizia elle, e portanto que tinha de se calar. Pois, meus amigos, digo-lhes que o tal homem, estava redondamente enganado. Pode professar as ideias politicas ou mesmo religiosas que quizer, que o governo, em boa verdade, nada tem com isso, porque o governo não é senhor da consciencia de cada um. Quem paga aos empregados publicos é o Estado, e por isso um empregado publico é um empregado do Estado e não do governo...'

-- Essa não percebo. Então o Estado não é o governo, professor?


A gravura incluída nesta página (tinta da china, aguarela e guache sobre papel), representando João Russo, é da autoria de UCAfonso, e foi concebida especialmente para ilustração do livro e do saite 'No Fastifud da Bernadete'.

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