Como na Suisa |
Capítulo III Primeira Página
-- Bernadete, minha linda, traz-me aí um chize rial, não é grande porcaria mas sempre me faz cócigas na barriga. -- Ó Dete, olha que eu cheguei primeiro que o João, e ainda não fui atendido. Quero um Mister Coc, ou como se chama lá isso, aquele que é uma especialidade dos franceses... -- Essa não percebi, Zé Cristão. Um hamburguer, especialidade dos franceses?! --Nem mais, professor Vergílio. Noitro dia, a Dete esteve a explicar-me esta coisa dos fastifudes. As lojas não são dos patrões daqui e nem são dos outros que inventaram os hamburgues. É um negócio que há-de ter algum emigrante por trás, porque ela falou-me em francisados. Algum champinhi de bom olho no negócio... ---Ná, cá pra mim isto é coisa mas é dos amaricanos, eles é que gostam da porcaria destas comidas. Os franceses são reis da culinária, não se metiam nisto, não será assim, professor? ---Tens razão, João da Neta, isto é mesmo um negócio importado da América. E francisados não é francisados, mas franchisados, vem de 'franchising', um sistema comercial que pegou moda entre nós, nos últimos tempos. É muito simples: um empresário tem uma ideia, produtos exclusivos para vender, estabelecimentos com uma imagem de marca muito própria, e autoriza que outros empresários, pelo mundo fora, vendam os seus produtos, a troco de uma percentagem nos lucros. Para além disso, as lojas obedecem a uma série de requisitos que são iguais para todos, seja aqui seja no Brasil ou no Japão. O pai da Dete é um franchisado, mas não tem nada a ver com as Franças! ---Isto com o professor é sempre a aprender. Cá o Zé Cristão na sua ingnorância pensava que era dos franceses. Até falei disto ao meu filho, e ele disse-me que sim, que havia de ser dos franceses por causa dos galicismos. Como aqui há muita comida com nome de galo, ele disse-me que havia de ser dos franceses. Quer dizer, o teu chize já se está a rir para ti, e o meu Mister Coc não há meio de vir. Dete? -- oh rapariga excamungada, foste apanhar o galo à capoeira?
A gravura incluída nesta página (tinta da china, aguarela e guache sobre papel), representando Manuel Caseiro, é da autoria de UCAfonso, e foi concebida especialmente para ilustração do livro e do saite 'No Fastifud da Bernadete'. |