Viva a Liberdade! Mas vocês a pé e eu de carro!

-- Ò professor, desculpe lá estar a pará-lo, mas os nomes das pessoas das folhas eram verdadeiros?

-- Não te sei dizer ao certo. O autor tanto podia ter-se inspirado em conversas reais com personagens reais, amigos ou vizinhos, como poderá ter inventado tudo. Imagina que eu um dia me lembrava de escrever um livro sobre estas nossas conversas aqui. Podia reproduzir fielmente os vossos nomes, caso vos quisesse prestar uma homenagem, como podia inventar outros nomes...

-- Isso é que havia de ser bonito, se botasse em folhas as asneiras todas que práqui dizemos. E ainda por cima com os nomes certos, caía-nos o povo em cima. Veja lá bem isso, não s'atente. Mas se alguma vez escrever alguma coisa, eu quero ser o João Russo, como o outro do jornal...

-- Havia outros nomes engraçados, que não apenas esse. Lembro-me do Domingos Moleiro, do Antão da Quinta, do Joaquim Coxo, do Francisco do Casal. O João Russo devia ter algum irmão ou primo, pois por vezes também aparecia no 'Commercio da Louzã' um António Russo. E mais: por exemplo o Manel Caseiro, o Joaquim do Fundo, João do Oiteiro, Teotóneo Maneta, Chico da Glória, Joaquim da Eira, Joaquim Thomate, João da Rosa...

-- Via-se logo que o tal Paulino falava mesmo com gente do povo, como nós, que os nomes não enganam ninguém. Ou hão-de botar-nos defeitos no nome, como o maneta, o coxo, ou então puxam-nos o apelido para a ingrícola, não é?

-- É o fado do povo do interior, sempre amarrado à terra. E bem amarrados às mulheres também, aí se vê a força delas. Repararam no Chico da Glória e no João da Rosa?

-- Engraçado, ó professor, como os ricos nunca têm destes nomes. Havia de ser bonito: Champlimond do Oiteiro, Manel Monteiro da Eira, Carvalhas do Fundo, Guterres Tomate...

--Esse havia era de ser da rosa, não vês que é o partido dele agora?

-- Mas agora há outra moda bastante curiosa, pôr aos filhos os nomes dos galãs das novelas, ou do futebol.

-- Lá isso é verdade. Então a minha Maria não cismou que havia de chamar Albarran ao nosso Chico? Só que o doutor Eusébio não deixou, porque segundo as leis Albarran não é nome, é apelido.

-- Voltamos ao jornal, ou fica para a semana?

-- Hi! meu Deus, já olharam para o relógio? Tão tarde! É melhor ler o resto noutro dia, que o programa da TV Cabo já começou...

FIM DO CAPÍTULO II