Os tilifones

Capítulo I           Quarta Página

-- É a mesma coisa d' hoje. Mudaram-lhes o nome, mas também é só na altura das eleições que s' alembram de nós. O presidente da cambra esteve a semana passada lá na terra, a dizer que é desta que arranjam o telhado da escola. E que se ganhar as eleições, vamos mesmo ter o saneamento básico. E os básicos dos meus vizinhos ainda vão na conversa dele. Eu já lhe disse na cara: voto nele mas tem que me arranjar antes emprego pró meu filho.

-- Coitado do presidente. Até a peça do teu filho lhe havia agora de sair na rifa. Se as discotecas fossem da cambra, aí garanto-te que já tinha emprego mais que certo, que ele é muito trabalhador a dançar, o raio do miúdo...

-- Dá-lhe com força, Pimpão, fizeste muito bem em pôr os pontos nos erres ao presidente, que o que os políticos precisam é de porrada, então não é professor? Boa, Pimpão, toma lá o voto mas dá cá um emprego, ih, ih... Eu que já tenho os meus todos bem empregados, não sei o que deva pedir. Mas fizeste bem dar-lhe porrada...

-- Não devia ser assim, não. O voto é o símbolo da democracia, a arma do povo para escolher com liberdade os que julgamos mais aptos para o governo da nação, ou das autarquias. O que o Pimpão fez foi mercadejar o seu voto. Mas cada um sabe de si. Faz-se tarde, e ainda tenho umas explicações para dar. Até amanhã, amigos.

A aguarela incluída nesta página é da autoria de Levinda Penedos, e foi concebida especialmente para ilustração do livro e do saite 'No Fastifud da Bernadete'.


Não perca a notícia da inauguração da primeira cabine telefónica em Serpins. Recorte respigado do Jornal 'O Povo da Louzã' nº 306, de 1 de Dezembro de 1939.


FIM DO CAPÍTULO I

CAPÍTULO 2