Em 1940 o cinema parecia pedir nova guerra mundial. Para já ia tratando de antevê-la:
"A FRANÇA EM GUARDA, um espectáculo que vem na hora própria, uma história simples, mas com uma linha dorsal sólida. O filme começa numa aldeia da França. Anoitece, os aldeões recolhem o gado. As luzes começam a apagar-se... Dizem muitos que a guerra ainda não começou... Mas é preciso ver-se êste filme formidável para se poder apreciar O QUE É... O QUE SERÁ A GUERRA!"
Em 1940 viajava-se até à guerra
de 14/18, "ULTIMATUM" oferecia-nos
o belo horrível: "O filme que numa sucessão de imagens
de rara beleza nos descreve as origens do trágico drama que enlutou
a Europa".
Portugal não entrava na guerra, mas o cinema mandou um soldado nosso ir até à mundial anterior. "JOÃO RATÃO" era o filme que vinha "na hora própria", "a alma do valoroso soldado português na guerra com todos os seus horrores, as suas noites de tragédia, os seus obscuros heróis, que se sacrificam abnegadamente". Se Portugal se personificasse em João Ratão, tinha conseguido uma vitória: "Eis porque passou o nosso JOÃO RATÃO, que a-pesar-de tudo nunca perdeu a sua fé, o seu bom humor, a sua vontade inquebrantável de voltar, para casar com a sua amada VICTÓRIA". Em 1946 a II Guerra Mundial já acabara, continuava no cinema "ad seculum, seculorum". Por exemplo, em "ATAQUE!", produzido pelo Comando Geral do Pacífico, tínhamos "ataques à baioneta, bombardeamentos", com a garantia de ser "tudo real!". Já "CARTA DE PREGO (U)" oferecia, também em 1946, "a eficácia das novas armas bélicas", como que a pedir nova guerra mundial. "EDUCAÇÃO PARA A MORTE" era, no cartaz, "Um filme imortal!" Como se tal não bastasse, era também, sem pudores "Um filme violento!". No resumo do argumento de "A CARGA DA BRIGADA LIGEIRA", o epílogo diz-nos que "muito tempo depois, na Crimeia, dá-se a célebre carga de Balaclava, na qual Geoffrey consegue deitar a mão a Surat Khan e matá-lo. Momento épico" -- grita o reclame! Quão longe andava ao tempo a linguagem "politicamente correcta" que pauta o finar do século XX. "A VERDADEIRA GLÓRIA", filme que passou em 1942, prometia "a formidável epidemia de cólera"; "REVOLTA NA ÍNDIA", do mesmo ano, referia-se à "subtileza e crueldade tipicamente orientais". |