Mercado D. Pedro V
Uma História com História*
Por Carlos Santarém Andrade
Coimbra
tinha, na primeira metade do século XIX, três mercados que satisfaziam as
necessidades alimentares dos seus habitantes: um, com raízes seculares, na Praça
de S. Bartolomeu (hoje oficialmente denominada Praça do Comércio, e igualmente
conhecida por Praça Velha); o mercado de Sansão, em frente da fachada
principal do Mosteiro de Santa Cruz e da sua Igreja (actual Praça 8 de Maio) e
ainda um mercado semanal às terças-feiras no antigo Largo da Feira, frente à
Sé Nova, reminiscência da chamada Feira dos Estudantes, instituída no século
XVI por D. João III, para a comunidade da Universidade, após a sua transferência
definitiva para a cidade.
Algum
tempo depois da extinção do mosteiro, ocorrida em 1834, resolveu a Câmara ,
em 13 de Junho de 1840, que as vendedeiras de cereais de Sansão passassem para
o então denominado Pátio de Santa Cruz, situado no local que é hoje o início
da Rua Olímpio Nicolau Rui Fernandes, entre a actual fachada lateral dos Paços
do Concelho e o edifício fronteiro, onde se encontra instalada a P. S. P. Este
último estava ligado à esquina do mosteiro, que a sede da edilidade veio
substituir, por um edifício que mais tarde foi demolido, sendo a entrada para o
pátio feita através de um arco nele existente.
A
troca não teria agradado às vendedeiras de Sansão, tendo as de milho
solicitado a sua permanência no anterior local, o que não foi permitido.
Igualmente as vendedeiras de plantas, que continuavam em Sansão, viriam a
pedir, mais tarde, em 1851, também sem êxito, para não serem transferidas
para o pátio.
Não
tardaria muito que o edifício de ligação fosse demolido, facto ocorrido em
1856, tornando assim mais amplo e visível o novo local de venda.
Pouco
depois, em 6 de Maio de 1857, nova alteração surgiu, com a mudança do mercado
dos cereais para a antiga horta do mosteiro, pertença da Câmara, e que se
localizava onde está o actual mercado, continuando a existir a velha praça em
S. Bartolomeu. Procurando desenvolver o novo local, a edilidade impõe que os
vendedores de milho que viessem de fora da cidade fossem obrigados a ir vender
ao mercado da horta, atendendo também a uma reclamação para que aquele cereal
não fosse transaccionado em S. Bartolomeu. As condições não seriam,
obviamente, as melhores, tendo sido autorizadas as galinheiras a mudarem-se para
o pátio, em frente aos gigantes, ainda hoje existentes, que sustentam as abóbadas
do antigo refeitório do mosteiro. O regresso ao pátio foi, no entanto, negado
às vendedeiras de cereais, que fizeram uma petição nesse sentido.
Era,
ao tempo, consensual a necessidade da construção de um mercado, pois a velha
praça instalada em S. Bartolomeu não satisfazia as condições mínimas, uma
vez que o local era acanhado para o efeito, além de ser apenas um "sítio"
onde se realizava diariamente, sem quaisquer estruturas permanentes, e com todos
os inconvenientes para o trânsito e asseio do espaço, além de não comportar
todos os vendedores, que, de há muito, ocupavam também o Largo de Sansão.
Mas
se havia consenso em relação à construção de um mercado, as opiniões
dividiam-se quanto à sua localização. Alvitravam-se dois locais: a horta de
Santa Cruz e a Sota, na velha Baixa Coimbrã. Surge assim, em 1858, solicitado
pela Câmara, um projecto da autoria do inglês Hardy Hislop, que indicava como
mais oneroso aquele a construir na Sota, no valor de 100.000$000 reis, enquanto
que o da Horta ficaria em 70.000$000 reis. De qualquer forma, a debilidade das
finanças municipais, não suportava, então, os montantes apontados, pelo que o
projecto ficaria adiado.
* Texto publicado em suplemento especial no Jornal de Coimbra de 14 de Novembro de 2001.
Agradecemos, sensibilizados, a autorização de reprodução neste site, concedida pelo Dr. Carlos Santarém Andrade.