Fotografia e Texto na Imprensa:
Relações Fortes
Outras princesas "entre aspas", precisam das suas fotos nos jornais para ganharem notoriedade. Aconteceu com a obscura e muito desconhecida Lilian Ramos, que atingiu os píncaros da efémera fama, e ganhou muito dinheiro, à custa de uma presença e de uma ausência: a presença ao lado do presidente brasileiro, a ausência das cuequinhas. Aqui, é a foto que vale tudo, porque é a foto que provoca o texto, que provocou milhões de caracteres escritos em milhentos jornais, e até valeu um programa de informação (sic) na SIC. Aqui, a foto vale tudo, o texto vem de empurrão, para legitimar uma foto que, noutras circunstâncias todos considerariam ordinariamente pornográfica. Sem cuecas, e com um sexo de tal envergadura, tudo ao lado do presidente brasileiro, a fotografia virou acontecimento. É a foto-espectáculo que quase dispensa as palavras.
Nas páginas do jornal, a informação principal não vem do texto, nem da foto, mas do seu encontro, diz Lambert. Estamos de acordo. Relações fortes, de redundância, de reforço do conteúdo que a imagem carrega. Relações fortes e tensas, tentando aprisionar a foto a um determinado sentido, conduzindo o sentido através do texto da legenda. No caso desta foto publicada no "Correio da Manhã", a legenda identifica o presidente do Brasil, diz-nos que não se trata de um instantâneo, que durou toda a noite, e que está a provocar mais um escândalo político em Brasília. Olhamos para a foto e, ajudados pela legenda, imaginamos um espectáculo contínuo de horas: "durou toda a noite".
Mas se o texto nos dissesse que a imagem tinha sido tirada momentos após os dois terem mantido relações sexuais, olharíamos de novo a foto com outros olhos.
Ou se o texto nos dissesse que a moça sofre de Sida, encontraríamos ainda outros olhos para ver a foto. E se o texto nos dissesse que Itamar Franco se divertia no sambódromo, enquanto seu filho se encontrava entre a vida e a morte no leito de um hospital, olharíamos muito mais o presidente, chamar-lhe-íamos canalha, e talvez até conseguíssemos desviar o olhar das partes pudibundas da moçoila.