Serve esta crónica
para falar dos restos da Lisboa rural, que brilham no Largo da Luz, durante
todo o mês de Setembro, já este ano uma vez mais.
O estado do sítio aparentemente não está para feiras.
É de choque, pela morte de Lady Di, que conhecíamos há
muitos anos, das revistas do coração, mas não há
forma de abordar a questão da sua prematura e trágica morte,
uma vez que as notícias sobre o infausto evento se sucedem a um
ritmo que não se compadece com o de um semanário.
Tudo estava preparado para imolar os abjectos 'paparazzi', cujas fotografias
avidamente consumiram os que agora lavam as mãos com lágrimas,
quando a polícia francesa vem dizer que o motorista de Diana e Dodi
estava bêbedo e, no dia seguinte, que o homem nem tinha carta para
a cilindrada do Mercedes em que fugiam, não esqueçamos, porque
nada alivia a culpa deles e a nossa, de um bando de vampiros, caçadores
de imagens escandalosas, pagas a peso de ouro pelos donos e editores dos
tablóides britânicos e sucedâneos continentais, publicadas
para nosso, salvo seja, gozo.
As revelações sucedem-se, pelo que, aguardando a descoberta
de que o indivíduo conduzia sob falsa identidade, sendo o seu verdadeiro
nome Luís Braile, o melhor mesmo é falar da Feira da Luz
e guardar os sentimentos nobres para dois miúdos de 12 e 15 anos
que ficaram sem mãe, mais uma mulher jovem e um milionário
breve que perderam a vida, para já não falar nos estropiados
pelas minas, que viram morrer uma amiga do peito, capaz de congregar, com
uma fotografia, mais atenções para a sua causa do que um
livro inteiro de Sebastião Salgado, com dois mil retratos de crianças
estropiadas, esta sem um braço, aquela sem uma perna, a outra, que
era tão bonita, sem maxilar inferior.
Que violência! A realidade
é assim, iníqua e desleal. Num momento destes, nem um bode
expiatório nos consente. Mas a vida continua e esta geração
estava mesmo a precisar de um mito.
Marylin, se fosse viva,
tinha a idade da minha mãe. James Dean podia ser meu pai, se tivesse
tido juízo e entrado só em filmes da Tóbis. Che Guevara,
não fora a ditadura boliviana, a asma e uns militares sem noções
de estratégia, e era hoje um velho ministro de Fidel, um dinossauro
excelentíssimo mais, isto é: não valia um charuto.
O Cobain que Deus tem, só é mito para os nossos filhos, e
quanto a Elvis, vou ali já venho; nasci no pós-guerra, francamente.
Diana, essa, será sempre nossa.
Diremos que ainda vive num castelo, clandestina, prisioneira dos Windsor
e da moral, ou que
era uma santa e nos faz muita falta.
Quanto à Feira da Luz, encerra dia 30.
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