do Remanso
António Costa Pinto
REMANSO Estavas,
linda cidade, posta em sossego, de tuas colinas suaves suspendendo o gesto
em repouso. No casario em névoas lentas esculpido, o tempo adormece o silêncio
de brisa ausente. Percorro-te
com a lentidão de uma carícia. Eu sou o tempo; tu és o meu
modo sereno de ser dia e sombra e pedra e voz embranquecida. Um voo de ave
entre nuvens esquecido, sem espanto nem rumo. Eu sou o tempo; tu és o meu
passo, os trilhos entre vultos breves desfiados. O olhar como um caudal
extenuado repousando nas margens de um instante. Eu sou o tempo; tu, o remanso
dos rostos talhados na memória das águas por dizer. José António Franco
Dezembro de 2000
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