O postal leva o "heavy" ao peso, que os tanques são de ferro, e a passagem pela Bósnia como uma digressão musical -- "Six Month Tour". No quiosque de venda de cd's piratas também há "Scorpions", os duros do rock -- não foram os únicos, deixaram um dia de partir guitarras porque se lembraram de partir corações. O "heavy" de manteiga traz a abrir "Wind of change", se se cumprisse a profecia era bom, ventos de mudança na Bósnia martirizada.

E há Coppola plagiado em postal, Roy Scheider não aparece inebriado snifando napalm, o Vietname está longe, o espectáculo "Bosnia Now" não foi produzido por Hollywood, mas soa a co-produção gigantesca, países no lugar de actores. Para evitar melindres, "starring in alphabetic order": Albânia, Áustria, Austrália, Bélgica, Bulgária, Canadá, por aí fora, Portugal até vem primeiro que os States, manda o alfabeto que os donos do mundo fiquem em último, mas o ditado diz que quem fecha a fila é primeiro, os americanos não deixam nada ao acaso.

Tintin também anda por lá, e há postais em relevo, como aquele com face de relva tranquila e flores de paz, e lá dentro levanta placard vermelho com a caveira da morte: o chão de dentro do postal está pejado de minas. A Coca-Cola não podia faltar, que nisto do merchandising de recuerdos de guerra não há suporte que escape: "Enjoy Saravejo", no frontispício de um boné, as letras da capital glosando as da multinacional do refresco. E t-shirts, e porta-chaves, e isqueiros "Zippo".

Há postais mais duros, como o que alinha os placards com as fotos de alguns dos que tombaram na luta fratricida e o que denuncia os criminosos de guerra, procurados pela SFOR, mas devagarinho, que o Tribunal Penal Internacional ainda só condena peixe miúdo. Não falta sequer o postal com grafismo que cheira a bafio, porque da ex-Jugoslávia se trata. Tito omnipresente, quatro fotos e uma estátua de bronze. Ao tempo, o marechal era o Senhor Croácia, o Sr. Eslovénia, o Sr. Sérvia, o Sr. Montenegro, o Sr. Macedónia, o Sr. Bósnia e Herzegovina.

Ao primeiro contacto, um comércio destes choca, mesmo que sirva apenas para consumo interno dos soldados da paz armada. Depois racionaliza-se tudo, e até nem custa descobrir o lado positivo do negócio. Vender recordações é sinal de que a guerra já lá vai. Que continue assim, a Bósnia que vos damos a conhecer através destes postais. Para que a Bósnia alva doutras páginas deste saite continue em branco puro, não voltando a manchar-se com tons de vermelho-morte...

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